PRECONCEITOS ENRAIZADOS E COMO AFETAM O FUTEBOL

PRECONCEITOS ENRAIZADOS E COMO AFETAM O FUTEBOL

 Artigo de opinião por Gisele Santos Oliveira em 19 de maio de 2022


Publicado por Felipe Nunes Coelho


PRECONCEITOS ENRAIZADOS E COMO AFETAM O FUTEBOL

“…Há poucos prazeres comparáveis ao de pular e gritar com a multidão comemorando um gol que passa a ser de todos, por direito de contigüidade emocional.” (PRADO, 1994). Futebol é de todos, é alegria, união e amor passado de gerações, ou pelo menos deveria ser. Isto é, desentendimentos são comuns quando se lida com outras pessoas, mas a violência vista no esporte deixa de ser sobre alguns simples conflitos.

HOMOFOBIA

        17 de maio é o Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia, e é comum que os perfis oficiais de equipes se posicionem e falem sobre o assunto. Contudo, não parece que isso reflete a opinião de suas próprias torcidas, visto que em grande parte dos comentários pode-se perceber um preconceito velado.

        Além disso, esse tipo de ódio também é visto fora das redes. Por exemplo, em 2019, um casal de torcedores do Cruzeiro foi filmado e ameaçado dentro do estádio por estar abraçado. Ou, também, as inúmeras vezes em que jogadores se recusam a usar o número 24 por ser relacionado ao animal “veado” no jogo do bicho.

      Por mais que, segundo o relatório da ONG Kick it Out, tenha-se visto um aumento de 95% no número de denúncias da temporada de 2019 para a de 2020, não é sempre que essas denúncias são devidamente investigadas, assim tornando-se mais atos de homofobia escancarados que nunca tiveram a devida punição.

imagem os dois homens aparecem se abraçando vendo um jogo de futebol
Imagem de um casal de homens abraçados assistindo um jogo de futebol.

RACISMO

     Não é diferente com os casos de racismo. O relatório produzido anualmente pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol mostra aumento de 52% nos casos, mas afirma também que só 10% deles são punidos.

      Isso pode ser observado, por exemplo, em um dos mais famosos acontecimentos de racismo no futebol brasileiro: o que o goleiro Aranha sofreu diante da torcida do Grêmio. Após a torcida tricolor praticar injúrias raciais contra o jogador, tudo ser filmado e comprovado, o time foi expulso de uma competição a nível nacional. 

     No entanto, a punição não gerou um efeito positivo, mas sim outras manifestações de ódio contra o goleiro, mostrando mais uma vez falhas no combate ao preconceito no futebol.

dois homem jogadores de futebo laparecem na imagem, um homem negro sentando no chão enquanto um homem de outro time o ajuda a se reerguer
Jogador desacreditado ao chão após ouvir vaias racistas sobre si de torcedores.

AGRESSÃO

     A rivalidade é essencial quando times se enfrentam; é sempre uma festa para os torcedores. Porém, por mais que essa competição seja importantíssima para o futebol, jogos assim tendem a ficar perigosos devido a toda emoção envolvida.

     Os jogos do Grêmio contra o Internacional são ótimos exemplos. Um dos últimos clássicos que ocorreria no dia 26 de fevereiro teve de ser adiado devido a objetos arremessados no ônibus dos jogadores do Grêmio, o que acabou ferindo alguns passageiros. Em outro, o Colorado foi punido com a perda de um mando de campo mais um multa de 30 mil reais por celular arremessado no rosto de Lucas Silva, jogador do Grêmio.

       Ainda que a pressão e os sentimentos sejam os motivadores para tais atos, isso nunca justificará qualquer episódio de violência.

Jogador de futebol puxando a camisa de um jogador do time adversário.

CONCLUSÃO 

     Com isso, pode-se perceber que o futebol, um esporte que deveria ser acolhedor, na verdade não está realmente aberto a mudanças e a inclusão. Isso afeta não só quem está diretamente ligado aos clubes e trabalhando em ambientes hostis, mas também os torcedores, os quais não se sentem respeitados ou representados pelo esporte. 

Portanto, Maurício Murad, doutor em Sociologia e autor do livro “A Violência no Futebol”, comprova isso quando afirma que a violência no esporte reflete as mazelas da sociedade. Enquanto não se muda o cenário de preconceitos recorrentes no país, não há como ter mudanças só dentro de campo. Sendo assim, como pode ser considerado o país do futebol, se não inclui a maioria dos brasileiros?

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