Publicado por Marianna de Castro
A juventude teve papel fundamental nas mudanças sociais e históricas ao redor do mundo. Essa parcela da população, que é vista até hoje como rebelde e exageradamente utópica, participou ativamente das mobilizações que se comprometeram a lutar pela esperança e por um mundo plural e verdadeiramente democrático. Além disso, entende-se que a política não pode ser vista como apenas uma atividade partidária e ideológica: faz-se política o tempo todo, e a interferência na sociedade, em seus mais diversos segmentos, caracteriza o debate social. Portanto, a presente dissertação tem o objetivo de instigar o pensamento crítico e debater o papel do jovem no mundo de hoje.
ㅤPrimeiramente, pode-se argumentar de várias maneiras distintas o porquê de dar voz à juventude ser um importante mecanismo democrático. Todavia, um simples motivo clarifica todos os demais: a transformação do mundo. É preciso dar espaço ao pensamento juvenil, tanto pela nova percepção de mundo que o jovem traz, quanto pelas experiências vividas por essa parte da população. A exemplo disso, em 2018 eclodiu nos Estados Unidos o movimento ”March for our lives”, que pedia o fim da violência armada em escolas norte-americanas. Durante o evento, Emma González, uma jovem que sobreviveu a um atentado dentro de sua escola, clamou pela participação de jovens na luta pelo engajamento social, defendendo que somente a juventude entende o que está acontecendo nos espaços educacionais, e que a voz do jovem é determinante para a legitimação de políticas públicas eficazes. Ademais, é possível perceber a relevância do protagonismo jovem e o impacto dessa luta no campo institucional.
ㅤEm 1960, com apenas 20 anos, Fred Hampton se tornou presidente do Partido dos Panteras Negras no estado de Illinois, movimento esse que, logo depois, contou com a participação de figuras emblemáticas como Angela Davis e Huey Newton, líderes que lutaram pelo fim da violência racial nos EUA. Mais a frente, em oposição à arbitrariedade do governo norte-americano em relação à Guerra do Vietnã, o jovem Tom Hayden organizou protestos por Washington D.C pedindo humanidade e paz internacional. Em um de seus discursos, Hayden não só cumprimentou os movimentos estudantis que participavam de suas mobilizações, como também instigou o lema dos seus atos: “Nos olhos da juventude está o destino e a história da humanidade”.
Logo, é preciso ressignificar a palavra rebeldia. O pensamento que ainda se faz presente na mente de muitos é de que esse termo tão importante é algo negativo, o que é equivocado, pois ele representa a luta pragmática e radical da juventude. Se a sociedade tenta impor que rebeldia é sinônimo de indisciplina, é preciso que a juventude não só repudie tal afirmação, mas também comprometa-se a buscar uma redefinição que mostre a resistência por traz do movimento. Rebeldia é o nome dado à revolução quando o preconceito não permite que a mente se abra para novas ideias.
ㅤNo Brasil, o movimento da juventude não é muito diferente. A democracia foi restabelecida após mais de 20 anos de atrocidades e autoritarismo, e, junto a ela, o Parlamento Federal iniciou o processo de promulgação de uma nova Constituição que, conforme colocado por Ulysses Guimarães, deveria representar a persistência e a sobrevivência da democracia brasileira. Assim, a participação dos jovens no processo político não deveria ser esquecida perante um marco tão importante na história nacional. Os jovens e as lideranças estudantis que ocuparam a linha de frente nas mobilizações pelo movimento ‘diretas já’ celebraram, em 2 de março de 1988, a emenda constitucional que invocava a legitimação do direito ao voto juvenil brasileiro. Desde aquele marco, foi estabelecida pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) a consolidação da campanha institucional em prol das pautas da juventude. Projetos de lei como a meia entrada para estudantes em cinemas, a lei de cotas nas universidades públicas e a formalização da representação dos estudantes em espaços educacionais foram algumas das pautas conquistadas pelas lideranças estudantis.
ㅤPor fim, não podemos ser alheios à atual conjuntura do nosso país. Em pleno ano eleitoral, um dos mais complexos e desafiadores da história recente, a juventude organizada tem papel decisivo nas articulações políticas e decisórias. Um pleito democrático tem como objetivo decidir não só um projeto de poder, mas um plano robusto e objetivo de ideias e propostas para o nosso país, já que a decisão de um candidato deve ser pautada na representação que esse traz para todo o povo. Como membros jovens da sociedade, é preciso exigir que nossas pautas estejam presentes na campanha dos candidatos, como o sucateamento do nível superior, um problema que atinge hoje números inimagináveis, com baixas liberações de verbas para as universidades públicas, somada ao baixo diálogo do Ministério da Educação (MEC) com movimentos sociais. O desprezo às pautas de educação pública de qualidade é fomentado deliberadamente, e sonhos são destruídos em meio a ineficácia governamental.
ㅤConcluo com os dizeres do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire, o qual afirmava que ”manter a esperança viva no Brasil era por si só um ato revolucionário”. A juventude do mundo tem que lutar por essa legítima revolução, que almeja e defende a transformação social por meio do saber e das oportunidades. Sejamos fortes como Emma, dedicados como Malala, persistentes como Greta e protagonistas de nossas histórias, vivências e lutas.
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