A Corrida do Vestibular: Pressão, Desgaste Mental e a Busca pelo Equilíbrio
Artigo de opinião por Maria Clara Machado em 23 de setembro de 2024
Publicado por João Otávio Marquez
A Corrida do Vestibular: Pressão, Desgaste Mental e a Busca pelo Equilíbrio.
Para muitos jovens, o vestibular vai além de apenas um passo na jornada acadêmica; ele se transforma num marco entre o sonho e a realidade. No entanto, até que grau essa pressão contínua pode afetar negativamente a nossa saúde mental? A procura por um lugar na universidade justifica o custo psicológico que muitos acabam suportando? Dessa maneira, devemos estar atentos e focados neste público neste momento crucial da vida, que está totalmente ligado ao aspecto emocional. Embora seja um período significativo, é importante lembrar que as decisões tomadas neste instante não são definitivas e, como indivíduos, podemos sempre mudar de opinião, evoluir e aprender.
Desde cedo, os alunos são ensinados a vincular sucesso à aprovação em uma universidade de renome. A cultura competitiva, reforçada por um sistema de ensino que prioriza resultados em detrimento de processos, estabelece um ambiente nocivo. Quantos adolescentes já não foram informados que “se não conseguir na primeira tentativa, é porque não se dedicou o suficiente”? Este tipo de argumentação pode ser destrutivo para a autoconfiança, fazendo com que muitos se sintam incapazes ou fracassados. Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra, alerta sobre os riscos desse ambiente competitivo, afirmando que a pressão social e a autoanálise muitas vezes ultrapassam os limites saudáveis, levando a transtornos psicológicos como ansiedade, depressão e síndrome do esgotamento profissional, o burnout.
Ademais, informações recentes indicam que o vestibular é uma das principais causas de estresse para os jovens no Brasil. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui o maior índice global de ansiedade, atingindo 9,3% da população. Essa situação se intensifica entre os alunos. Um estudo conduzido pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) indica que aproximadamente 80% dos candidatos exibem altos níveis de ansiedade durante a fase de preparação para as provas. Entretanto, o que muitos pais e professores ignoram é que a pressão excessiva não aprimora o rendimento, pelo contrário. A ansiedade tem potencial para prejudicar diretamente a habilidade de concentração, memória e lógica. Quando sobrecarregado, o cérebro reage bloqueando a habilidade de assimilar informações, resultando no temido “branco” durante as provas.
Então, como podemos seguir um percurso saudável nesta etapa da nossa vida? Antes de mais nada, é essencial balancear o tempo dedicado ao estudo e ao lazer, pois ambos são indispensáveis! O foco é crucial para atingir metas acadêmicas, mas também é crucial que não seja extremo: não se deve renunciar ao lazer, ao descanso da mente e à incorporação disso na rotina diária. O vestibulando precisa de momentos para relaxar e aliviar o estresse e o cansaço que os estudos podem eventualmente provocar. Isso intensifica a curva de aprendizado e é altamente benéfico escolher momentos de diversão, como assistir a um filme, praticar esportes, sair com os amigos, etc. Nestes momentos, é fundamental a existência de uma rede de suporte que auxilie o candidato a enfrentar a pressão, seja por meio de momentos prazerosos com a família, colegas de escola ou buscando auxílio profissional.
Logo, pode-se concluir que é fundamental manter um equilíbrio entre a dedicação aos estudos e a atenção à saúde mental. O exame vestibular não deve ser considerado o único método de validação individual. Afinal, qual é o real significado da aprovação se ela for obtida à custa da saúde mental? É viável, sim, alcançar êxito acadêmico sem comprometer o equilíbrio emocional. A implementação de uma rotina que inclua momentos de lazer, autocuidado e suporte emocional pode ser o segredo para um rendimento eficaz e uma mente equilibrada. Assim, a agitação do vestibular nos leva a ponderar sobre o que realmente tem valor. Será que o sucesso justifica o custo da nossa tranquilidade interior? Mais do que obter uma vaga, o maior triunfo é aprender a se cuidar sob pressão, recordando que a vida não se limita a um único instante ou prova.