A vida e obra de Clarice Lispector


A vida e a obra de Clarice Lispector

Biografia por Lara de Oliveira Naves em 06/04/2021

Inicialmente chamada de Haya Pinkhasovna Lispector, Clarice Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920 em uma aldeia chamada Tchetchelnik, na Ucrânia. Era filha de um casal judaico Pinkouss e Mania Lispector, seus pais tiveram que sair do país devido às perseguições aos judeus durante a Guerra Civil Russa.Vieram para o Brasil, inicialmente para Maceió onde já tinham parentes, Clarice na época tinha em torno de 2 meses de idade. Depois se mudaram para Recife, onde ela aprendeu a ler e escrever. Clarice desde nova gostava de escrever pequenos contos. Aos 12 anos se mudou para o Rio de Janeiro, onde terminou a escola e se formou na faculdade de direito. Desde criança, Clarice demonstrava interesse pela escrita por meio de contos e peças que escrevia. Após a morte da sua mãe, em 1930, chegou a compor sua primeira peça para piano em homenagem a ela. 

foto de Clarice Lispector
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Seu primeiro romance, “Perto do coração selvagem”,foi publicado e premiado em 1942, prevendo a participação da autora no movimento histórico-artístico conhecido como Geração 45, ou terceira fase do Modernismo. Esse movimento traz uma forte característica da quebra do tradicionalismo na área da literatura, algo observado nos principais romances da escritora, “A hora da Estrela”(1977), que possui sua versão cinematográfica, e “A paixão segundo GH”(1964). O fato de Clarice ser também tradutora, traz uma forte influência estrangeira como iniciativa para as mudanças na escrita, tendo seu diferencial em escrita de uma forma fluida, com uma mudança da estrutura visível do enredo e a oscilação dos tipos de narradores em um mesmo conto, algumas vezes observador outras personagem, a subjetividade em crise, em que pequenos acontecimentos levam ao choque de realidade no leitor.

Ela também trabalhou como assistente voluntária junto ao corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a Segunda Guerra Mundial e como jornalista e tradutora, adaptando obras de autores como Agatha Christie (Assassinato no Expresso do Oriente), Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Gray) e Edgar Allan Poe (O Gato Preto), chegando até mesmo a viajar para a Colômbia para participar de um congresso mundial de bruxas. 

Além de romances, Lispector se aventurou na literatura infantil, com suas obras: “O mistério do coelho pensante”(1967) e “Quase de verdade”(1978), esse último sendo uma memória póstuma. Também fez parte do gênero conto, sendo os mais famosos: “Felicidade Clandestina”(1971) e “A legião estrangeira”(1964).  Ela também foi cronista do “Jornal do Brasil” e hoje todas as suas obras nessa área estão reunidas em um livro chamado “Todas as Crônicas” da editora Rocco. As crônicas foram muito importantes para destacar os traços de autobiografia da autora, como em “As três experiências”, essa característica também estava presente em outras obras, mas se destacam nesse meio.

Lispector também fez parte da terceira geração do modernismo brasileiro, juntamente com Rubem Braga, Lúcio Cardoso e Fernando Sabino. Ambos os artistas buscaram inovar no quesito da escrita brasileira, e com Clarice não foi diferente. A escrita dela era realizada com maestria, e principalmente com ênfase na psique de suas personagens, no qual fatos banais poderiam ocasionar epifanias e mudar o rumo da história.

Diferentemente do tempo cronológico, muito presente antes de Lispector, ela escreveu em tempo psicológico, narrando os acontecimentos externos de dentro da mente das personagens, fluidamente descrevendo os fatos e acontecimentos de maneira que eles só sejam realizados no fluxo de consciência que ela mesma estabelece. Clarice então, revolucionou a escrita da época apresentando algo que quebrava com as expectativas literárias pré estabelecidas. 

Morrendo aos 56 anos, um dia antes de completar 57 anos e dois meses após a publicação do romance “A hora da Estrela”, Clarice foi hospitalizada com um tardio e inoperável câncer de ovário, vindo a óbito na manhã de 9 de Dezembro. A sua família e amigos publicaram nos Jornais do Rio de Janeiro um convite para seu sepultamento e um pedido para não enviar flores. Ao morrer, foi enterrada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, apesar de querer ser sepultada no Cemitério São João Batista, mas o corpo foi recusado por ela ser judia.

Clarice Lispector deixou dois filhos e um legado incontestável para a literatura brasileira. “Na próxima encarnação, vou ler meus livros como uma leitura comum e interessada, e não saberei que nessa encarnação fui eu que os escrevi”.

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