Rita Lee: Um retrato de todas mulheres do mundo

 Rita Lee: Um retrato de todas mulheres do mundo

Biografia por Bianca Miranda Soares em 24 de junho de 2022


Publicado por Maria Clara Pedroza Santos

Caso você não tenha vivido em Marte pelos últimos cinquenta anos, com certeza já ouviu falar de Rita Lee, ou ao menos, já ouviu um de seus muitos sucessos que a fizeram ganhar a alcunha, nada exagerada, de “Rainha do Rock brasileiro”. Venha conhecer um pouco de sua trajetória e importância no cenário musical nacional.

Na foto, Rita Lee acena para o alto.
Rita Lee (Reprodução: Uol – Observatório dos famosos)

Começo da vida e primeiros passos na música

Rita Lee Jones de Carvalho nasceu na véspera do ano novo, no ano de 1947. É a mais jovem de duas irmãs, Virginia Lee e Mary Lee. Os nomes incomuns se devem à curiosa combinação que seus pais formavam: a pianista filha de italianos mais católica que o papa, Romilda Padula e o ex-soldado, no momento dentista, imigrante americano, Charles Fanley Jones.

Desde pequena, Rita se interessou pela música, aprendeu a tocar piano cedo e logo depois migrou para outros instrumentos, entretanto não era seu foco principal. Ela queria ser atriz, veterinária ou seguir os passos de seu pai e ser dentista. Foi só durante a adolescência que a música passou a ser mais que um hobbie. Nessa época, formou sua primeira banda, Teenage Singers, com duas amigas de escola, nela Lee tocava bateria e dividia os vocais com as demais garotas. Elas se apresentavam em pequenos festivais escolares e festas, e tinham contato com outras bandas de jovens, dentre elas a Wooden Faces, banda que contava em sua formação com Arnaldo Baptista. Rita foi convidada a participar do grupo, que com a sua inclusão e a de Sérgio Dias, irmão de Arnaldo, o grupo passou a se chamar “Six Sided Rockers”.

O grupo mudou de nome, novamente, para “O conjunto e O’seis”, lançaram seu primeiro e único compacto, que não fez muito sucesso comercial. Depois de desavenças e outras questões, os demais integrantes saíram do conjunto e apenas os irmãos Batista e Rita Lee continuaram. Nessa nova formação adotaram o nome de “Os Bruxos”.

Os Mutantes

Na foto, Rita Lee em "Mutantes"
“Mutantes” (Reprodução: Armazém Música Brasileira)

  “Já ouviu “Os Bruxos”? Baita banda”

Talvez falássemos dos “Mutantes” assim se não fosse por Ronnie Von. Ele era um dos cantores queridinhos da época e se preparava para lançar seu programa de tv, “O Pequeno Mundo de Ronnie Von” e apostou na banda de jovens, que nem haviam lançado um disco, com toda sua parafernália instrumental para integrar o elenco do programa. Antes da estreia, sugeriu uma mudança de nome, o que os jovens músicos aceitaram. Sendo assim, se tornaram Os Mutantes, conhecidos por sua inventividade nos arranjos e o uso da guitarra elétrica, que causava um verdadeiro frisson na época.

“Os Mutantes” se tornaram peças importantes na história da música nacional, tendo participado do álbum manifesto, “Panis et Circenses ou Tropicália” (1968) e também de algumas das apresentações mais marcantes da música brasileira: a de “Domingo no Parque” com Gilberto Gil  e a de “É proibido proibir” junto de Caetano Veloso. Nesta, eles foram vaiados e por isso tocaram de costas para o público.

Durante a formação clássica, lançaram cinco álbuns em conjunto e Rita Lee lançou dois álbuns solo com auxílio dos irmãos Batista. A era de ouro do grupo terminou  em 1972, com a expulsão de Rita Lee por Arnaldo Baptista, que era seu marido na época, com a alegação de que ela não tinha “cacife” enquanto instrumentista para prosseguir na banda.

Rita Lee & Tutti Frutti

Após sua saída dos Mutantes, Rita passou uma temporada em Londres, onde se inspirou na estética e sonoridade do Glam Rock e de artistas como David Bowie. Ao voltar para o Brasil, já com os seus clássicos cabelos vermelhos, Rita Lee se juntou com um grupo “Tutti-Frutti” e lançou “Atrás do Porto Tem Uma Cidade” (1974), que não fez tanto barulho quanto seu sucessor.

“Fruto Proibido” (1975) foi um sucesso de público, vendeu mais de 700 mil cópias no Brasil e tem inúmeros clássicos, como “Ovelha Negra” e “Agora Só Falta Você”. Esse foi um dos maiores marcos de sua carreira, tanto em aspecto de números quanto de simbolismo. Esse álbum serve de prelúdio dos temas feministas e sexuais que a cantora abordará cada vez mais em seus próximos lançamentos.

Ainda na era Tutti-Frutti, em 1976, Rita Lee foi presa enquanto estava grávida de seu primeiro filho. A cantora teve sua prisão decretada por posse de maconha, mas ela alega que a droga encontrada foi plantada pelos militares para fazê-la de bode expiatório e de exemplo para outros artistas. Ela ficou presa por alguns meses e essa prisão rendeu um dos mais famosos causos da música brasileira: a visita de Elis Regina, que até então era o completo oposto de tudo aquilo que Rita representava, no local em que a cantora estava detida. Depois de sua soltura, voltou a fazer shows, esgotou ingressos por todo o país e lançou seu último álbum com o Tutti-Frutti, “Babilônia” (1978) e em seguida o grupo se desfez.

Rita Lee e Roberto de Carvalho

Na foto, aparece Roberto de Carvalho abraçando Rita Lee e ambos sorrindo.
Rita Lee e Roberto de Carvalho (Reprodução: Dom Total)

Ainda na Tutti-Frutti, conheceu o multi instrumentista Roberto de Carvalho que se tornou seu companheiro no amor e na música. Durante o processo do fim da banda, eles passaram a compor e trabalhar juntos, e dessa união saiu o disco “Rita Lee”  (1980), também conhecido como “Mania de Você”, que era a faixa cargo chefe do álbum. A canção em questão quebrou tabus ao falar de sexo e prazer feminino sem os pudores de outrora, o que chocou a sociedade conservadora.

O próximo álbum da dupla chocou ainda mais com a clássica “Lança Perfume”. Não era esperado que uma droga ilícita fosse citada de maneira tão explícita e a temática sexual fosse tratada de maneira tão direta em uma canção de uma cantora de tamanho alcance. Com esse histórico de composições sensuais, Rita Lee passou a ser uma das mais censuradas por ofender a moral pregada pelos militares. Entretanto isso não a parou, é possível ver que o tema continuou a ser explorado nos próximos álbuns da dupla, que também são recheados de sucessos.

Juntos tiveram três filhos, Beto, João e Antônio Lee, além de diversos álbuns juntos.

Atualmente 

Rita Lee se aposentou dos palcos dos palcos em 2012 e desde então mora no seu sítio no interior de São Paulo com Roberto e seus animais de estimação. Atualmente se dedica à escrita e já publicou sua autobiografia (que inclusive recomendo a leitura, já que não é possível falar sobre toda sua carreira e feitos em um simples texto), uma coletânea de contos e a coleção de livros infantis “Dr. Alex”, que traz a pauta ambiental que a cantora defende aos pequenos.

Em maio de 2021, foi diagnosticada com câncer no pulmão e, felizmente, depois de diversas sessões de imunoterapia e radioterapia, recebeu a notícia de que estava curada da doença.

Rita Lee Jones de Carvalho é, inegavelmente, um nome que ficará eternamente marcado na cultura brasileira, seja por sua contribuição na formação do movimento tropicalista e do rock nacional, seja pela inserção de temáticas que abordam questões de gênero e sexualidade feminina em suas letras. Suas canções romperam barreiras e fizeram com que inúmeras mulheres fossem ouvidas, entendidas e inseridas no meio fonográfico. Desse modo, sua discografia é uma verdadeira ode ao feminino, ao prazer e, principalmente, a boa música. 

Conheça um pouco mais da obra da rainha do rock nacional:

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