O desespero leva os seres humanos a fazerem coisas inimagináveis. Não que eu os julgue, na verdade, isso foi uma autocrítica.
Sempre pensamos na infância que os monstros se escondem embaixo de camas, em armários ou atrás de mesas executivas. Isso pode até ser verdade, mas os monstros mais perigosos são os que te obrigam a fugir. Fugir de sua casa, fugir da sua cidade, fugir do seu país.
Os piores monstros são aqueles que obrigam menininhas a sair de casa somente se estiverem acompanhadas, são aqueles que apagam o rosto de modelos de lojas, e impedem mulheres de estudar.
Nesses casos o melhor a fazer é… não sei. Não achei que precisaria saber. Foi tudo muito rápido, ninguém achou que isso aconteceria de novo. Em casos extremos a adrenalina liberada no corpo humano o prepara para fugir ou lutar. Nós sabemos o que acontece caso decidamos lutar, então tentamos fugir.
Lotamos aeroportos em desespero, fugimos pelas fronteiras, mas pouco foi feito. Alguns de nós não eram importantes o bastante para serem colocados dentro de aviões, ou evacuados em helicópteros governamentais estrangeiros.
Então, agimos por impulso, por desespero. Acho que foi por isso que eu agarrei àquele avião.
Há algumas semanas me lembro de ter ido ao mercado e por algum motivo ter olhado para o céu. Nosso cotidiano apaga completamente sua presença, como se ele fosse alguma mancha na nossa visão periférica. Porém, ao observá-lo por alguns instantes podemos ver como ele é bonito, uma jóia rara, principalmente em dias sem nuvens.
Algo semelhante acontece com o vento, quero dizer, pelo menos eu nunca notei o porquê do vento ser… vento, para mim ele só existia, raramente me lembrando de sua presença ao bagunçar meu cabelo suavemente.
Pode ser por isso que eu me senti extasiado em meus momentos finais. Já que primeiro veio o desespero, depois o céu, depois o vento e então…
Nada.
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