Bestiário: Stolas, ossos de vidro
Crônica escrita por Renzo Oliveira Ximenes em 14 de novembro de 2022
Publicado por Marianna de Castro
De aspecto frágil e quebradiço, nosso primeiro encontro foi um pouco medonho, cheguei à noite no Kentucky, o clima estava quente e úmido, fui a cavalo até a vila mais próxima. Lá, fui acolhido pelos moradores, que enxergavam em mim a imagem de um herói, prestes a enfrentar a praga que assolava a vila. Deram-me cama, comida e aguardente. Já amanhecia, acordei cedo, e à minha disposição uma canoa, que usaria para fazer o trajeto.
Conforme adentrava os pântanos, notei a presença de carcaças de crocodilo, porém com a cauda e couro removidos. Logo em seguida, escutei gemidos, que se assemelhavam a choro de criança, seguido de uma agitação na copa das árvores. Previamente informado pelos nativos sobre sua alimentação peculiar, saquei a minha lanterna e projetei luz UV num galho próximo. Bingo! Gotas de saliva pingavam sobre meus ombros, ao olhar para cima, lá estava ele, Stolas, ossos de vidro: uma coruja, de olhos vermelhos sangue, mandíbula solta e pernas extremamente longas e finas. Quando cruzamos o olhar, sua expressão mudou de desejo para pânico.
Já acuado e tentando dar fuga entre os cipós, minha espingarda foi mais veloz, munida de balas de choque. Apenas um tiro foi capaz de imobilizá-lo, mas eu optei por descarregar o cartucho para fazer valer a viagem. Capturei-o com o auxílio de minha rede. Já na canoa, lesionei suas penas, para impedi-lo de levantar voo. Depois de finalizada a taxidermia e catalogação neste bestiário, seu corpo frágil e quebradiço se encontra como decoração em meu chalé na Sardenha.