Contos e Crônicas

A crise do terceirão

A crise do terceirão

Crônica por Barbara Cunha em 10 de setembro de 2024


Publicado por João Otávio Marquez

O sol nasce e logo o sinal toca: corredores da escola cheios, pulsando de energia começando um novo dia. O ambiente, vibrante e cheio de vida, é como um quadro recém-pintado, ainda fresco e cheio de promessas. Porém, conforme os dias avançam, uma sensação de transição toma conta do espaço familiar. É estranho como os últimos dias de aula carregam um ar diferente quando você sabe que são realmente os últimos, como se o tempo se alongasse, quase pedindo para ser aproveitado ao máximo, mas ao mesmo tempo se apressasse; ele não espera até que você esteja pronto, o ponteiro não para.

No começo do ano, ninguém pensava no fim. A preocupação era com as provas, os trabalhos, as conversas na hora do intervalo e as fofocas. Mas agora, à medida que as datas vão se aproximando, os cadernos sem espaço, as folhas de fichário acabando, os tablets com armazenamento cheio e os livros finalizados, a sensação de despedida começa a pesar no ar. E é nos pequenos momentos que a nostalgia se infiltra: uma risada abafada no canto da sala, as palavras de um professor que parecem mais sábias do que nunca, as piadas internas que só aquele grupo de amigos entende. De repente, coisas que antes pareciam banais ganham um valor inesperado; a rotina, tão criticada ao longo dos anos, agora parece reconfortante, segura. E apesar do alívio – “Finalmente tá acabando!” – surge a sensação de saudade antecipada, como um prenúncio do que um dia se tornará apenas uma lembrança. Vivemos o presente com a consciência de que, um dia, olharemos para esses momentos com um misto de alívio e saudade, as memórias que pintamos com tanto esforço, suor, lágrimas e muita caneta bic.

E há também o medo, escondido atrás das despedidas forçadas. O que vem depois? A universidade, o trabalho, as responsabilidades… Tudo tão incerto, novo, desconhecido. E se não estivermos prontos? E se não encontrarmos nosso lugar no mundo? Vou continuar com meus amigos ou vamos nos afastar? Essas perguntas brotam como ervas daninhas nas conversas de corredor, surgem inesperadas e somem arrancadas adiando o assunto para a formatura.A incerteza e a indecisão do curso a decidir, o medo do desconhecido como um campo aberto à nossa frente, onde cada passo é uma nova descoberta e um novo desafio. É como um passarinho saindo do ninho, pronto para voar, ainda que inseguro, enfrentando o mundo, novos desafios que até então estavam apenas em seus sonhos além da escola, nossa zona de conforto, ao mesmo tempo emocionante e intimidante.

Os olhares trocados entre amigos, antes tão despreocupados, agora carregam um peso que só o tempo pode explicar. É a certeza de que, mesmo que se reencontrem, algo mudará e, muitas vezes, a amizade nem continuará. A escola, que foi a tela de tantas histórias, boas ou ruins, está prestes a se transformar em uma lembrança, em uma pintura desbotada na parede da memória, marcando o final de um ciclo.

Nos últimos dias de aula, aprendemos que a despedida não é apenas um adeus a um lugar, mas também a uma versão de nós mesmos. É a infância que se despede, abrindo espaço para o que vem a seguir. E, mesmo com a tentativa de segurar o tempo entre os dedos, ele escapa, suave como areia. Talvez seja isso que torna esses dias tão especiais: a certeza de que, por mais incerto que o futuro seja, o passado será sempre nosso. Enquanto os últimos raios de sol de um novo janeiro iluminam os corredores, seguimos em frente, levando conosco as memórias de uma época que, apesar de tudo, jamais será esquecida. Outros virão, e o ciclo se renovará. O sol se levantará para uma nova turma, que, ao toque do sinal, começará a pintar suas próprias histórias e descobertas. Nosso quadro, agora pendurado junto aos outros, estará finalmente completo, encerrando o primeiro capítulo para abrir espaço a novos começos.

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