Por trás daquela música

Por trás daquela música

Divulgação científica por Maria Eduarda Lima Ribeiro de Oliveira em 29/09/2021



Publicado por Maria Rita Mamede


capa do texto sobre músicas presas na cabeça
Aquela música fica na sua cabeça, e não é por acaso. Há motivos científicos, psicológicos e até mesmo econômicos que levam uma canção a se tornar chiclete.

      Durante a década de 1910, o indicativo de que uma música fazia sucesso era ser assobiada nas ruas, de modo que sua estrutura era elaborada com base nisso. Mais de um século depois, a busca por aprovação popular pelos artistas continua. No entanto, posto que o método atual de compartilhamento musical é feito, em sua maioria, pelas redes sociais, foi necessária uma adaptação a esse novo contexto. Nesse sentido, é cada vez mais comum encontrar melodias simples com o refrão curto e viciante que demoram horas, até mesmo dias, para serem esquecidas, as famosas “músicas chiclete”. 

       Conhecidas em inglês como earworms (minhocas de ouvido, em tradução literal), estas músicas costumam apresentar uma faixa entre 15 e 20 segundos feita para ser lembrada. Qualquer um que passe tempo demais no Tik tok ou assistindo reels no Instagram deve saber de cor, ainda que inconscientemente e contra seu gosto musical, trechos  de “Levitating”, da Dua Lipa e de “Good 4 u”, da Olivia Rodrigo, dois hits marcantes de 2020 e 2021, nessa ordem. 


Um dos vários vídeos que utiliza como áudio a quarta faixa do álbum de estreia de Olivia, que lhe conferiu mais de dois meses em destaque no  Billboard Hot 100 Chart.


      A explicação científica para esse fenômeno, também chamado de INMI (sigla inglesa para imagens musicais involuntárias) leva em consideração não apenas o centro auditivo do cérebro, mas também as áreas encarregadas de memória, atenção, entre outras. Dessa maneira, quando alguém escuta uma canção, seu corpo se encarrega de reagir ao que o cérebro interpreta como um estímulo positivo, associado à melodia genérica que traz a sensação de familiaridade. Portanto, esse conjunto de fatores indica, para alguns pesquisadores, uma adesão mais fácil da música chiclete.



      Em relação ao aspecto técnico-musical, o professor e músico Felipe Pessoa constata que há uma fórmula para o efeito grudento. Entre as características indispensáveis, encontram-se letras com baixa complexidade e um clímax, geralmente mais agudo, que contrasta com as estrofes. Dessa forma, o professor aponta a presença desse padrão em “Meu cupido é gari”, de Marília Mendonça, fruto do movimento do feminejo e repertório do PAS ( Programa de Avaliação Seriada da UnB ) desde 2018.

      

     Ademais, Pessoa ressalta que o papel desse tipo de obra é justamente a falta de complicação, uma vez que “o efeito melódico é mais importante do que é dito”. Não obstante, enfatiza que o fato de uma música  ser voltada para a indústria cultural não a torna ruim nem de baixa qualidade, mas sim fiel ao seu período. 

      Atrelado a essa ideia de uma cultura de massa, no entanto, entra em cena o Tik Tok e a forma quase torturante em que expõe os mesmos 15 segundos musicais repetidas vezes.

      Ainda que seja um recurso com bom retorno financeiro tanto para os artistas quanto para o aplicativo, para os usuários da rede é uma fonte de futuro stress ao tentar esquecer determinado áudio.



Em vista disso, os melhores métodos para desgrudar uma música chiclete da cabeça são:

  1. Ouvir a música inteira;

    Como a faixa escutada consiste em poucos segundos, a versão completa tende a cancelar o efeito surtido a princípio.

  2. Pensar em outra música;

    Eventualmente, substituí-la, até quebrar o ciclo.

  3. Realizar uma atividade motora;

    Por conta das áreas de concentração do cérebro, atos como batucar os dedos e mascar chiclete inibem a subvocalização, logo tiram o foco da ação inicial. 



Fontes: 

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