Notícia e Texto Histórico por Gabriel de Castro Paz Hausen em 22 de agosto 2022
Publicado por Maria de Los Angeles Delgado
O retorno do grupo fundamentalista Talibã deu-se há exatamente um ano, no dia 15 de agosto de 2021, quando tropas militares americanas anunciaram o abandono do território. Desde o encerramento da ocupação norte-americana, que durou vinte anos, a dinâmica populacional do país tem sido transformada de forma radical. O movimento sunita é caracterizado por enorme fanatismo religioso, que resulta em medidas extremas para com aqueles que não seguem suas restrições. Não obstante seu recente regime, o Talibã é parte de um processo extremamente complexo, que envolve diversas nações em diversos períodos da história.
Na década de 1970, no contexto da Guerra Fria, o então Reino do Afeganistão buscava maior proximidade com as nações da Europa Ocidental e os Estados Unidos. Tal comportamento chamou a atenção da poderosa União Soviética, que, em 1978, influenciou a tomada de poder político pelo Partido Democrático do Povo Afegão – de inclinação socialista – na denominada Revolução de Saur. Como resposta aos eventos anteriores, os Estados Unidos formaram um forte movimento de resistência, cujo principal objetivo era impedir a expansão ideológica da URSS. Assim, iniciou-se a Guerra do Afeganistão (1979), marcada pela polarização militar entre o exército soviético, que apoiava as agremiações marxistas afegãs, e os diversos grupos islâmicos financiados pelos Estados Unidos. O conflito foi marcado por milhares de mortes – tanto entre combatentes como civis – e resultou na retirada militar da já enfraquecida URSS, em 1989.
Durante a conjuntura da guerra, a Arábia Saudita, aliada norte-americana, financiou diversas Madrassas, escolas religiosas no Paquistão destinadas a famílias afegãs que fugiam dos atritos de seu território nativo. Essas instituições eram ocupadas, majoritariamente, por representantes da etnia Pashtu, que posteriormente formariam o movimento Talibã, consolidado em 1994. Após a dissolução da URSS, o governo do Afeganistão e seus guerrilheiros aguardavam auxílios econômicos para a reconstrução do país, prometidos pelos Estados Unidos. Tal ajuda nunca se efetivou.
Em meio a crises internas e a um cenário político instável, o grupo extremista Talibã assumiu o poder nacional no ano de 1996. Controlando grande parte da região afegã, seus representantes instauraram um verdadeiro caos no país. As mulheres eram obrigadas a usar burcas, vestimenta que cobre todo o corpo, e somente podiam sair de casa acompanhadas por um homem. Além disso, não lhes era permitido qualquer tentativa de ingresso ao mercado de trabalho ou a instituições de estudo. Aquelas que desobedecessem qualquer regra imposta eram punidas publicamente. Minorias religiosas e étnicas também eram perseguidas pelo movimento autoritário, que proibia a posse de qualquer artefato que não se encaixasse na moral islã.
O regime terminou somente em 2001, após os atentados do dia 11 de setembro, liderados pela Al-Qaeda. Os Estados Unidos acusaram o movimento de dar refúgio a representantes do grupo terrorista supracitado, servindo como base de suas operações. Comprovado o apoio e proteção do governo Talibã a Osama Bin Laden, os norte-americanos exigiram a entrega da figura por trás dos ataques que levaram à morte de mais de três mil indivíduos. Tal pedido foi recusado, decisão que levou à invasão do Afeganistão, em outubro de 2001. Os militares americanos afastaram grande parte das tropas talibãs da região central do país, que, apesar de enfraquecidas, sempre formularam tentativas de retomada ao poder. Essas investidas se davam por meio de ataques, que foram controlados pela presença dos Estados Unidos no território. Apesar do domínio norte-americano, os crescentes conflitos entre suas forças armadas e o grupo fundamentalista custaram a vida de milhares de soldados e civis. Além do prejuízo moral, manter tal influência militar ao longo dos anos se tornou cada vez mais cara para o governo estadunidense, que começou a pensar sobre uma possível retirada de suas tropas militares. A ideia foi concretizada apenas em 2021, no governo do presidente Joe Biden.
A decisão foi e ainda é muito controversa, visto que deixou a desesperada população afegã nas mãos dos membros do Talibã, que agora, sem nenhum tipo de resistência, podem impor seus ideais da maneira que bem entenderem. A questão é amplamente discutida pelos comitês de segurança internacionais, nos quais as nações lutam para solucionar a problemática.
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