Publicado por Amanda Velasco
De uma coisa eu tenho certeza: histórias de amor serão sempre atemporais. Não importa o quanto você viaje no tempo, sempre haverá alguém tentando reproduzir esse sentimento tão grandioso. Durante todos os anos da humanidade, as formas de representar o amor abrangeram diversas áreas, desde a literatura até o cinema. Você o encontra em todo lugar e de vários modos.
Se eu pedisse agora para vocês falarem o seu romance favorito, a maioria ficaria em dúvida. Os que não hesitassem provavelmente diriam um filme que foi lançado há pelo menos 20 anos. Mas por quê?
A qualidade dos romances vem reduzindo rapidamente nos últimos dez anos: não experienciamos mais as sensações que sentíamos com os filmes antigos! Para essa evidente piora, existem diversos motivos, um deles sendo o gosto pessoal. Posso passar inúmeras linhas falando sobre pontos práticos que mostram por que os filmes estão desse jeito e, no final, você me dizer que os prefere atualmente. A única coisa que poderei responder é “massa”. Independentemente, vou tentar explicar esse evento dentro do vasto universo cinematográfico.
Na atualidade, o tempo parece estar passando mais rápido, com as produtoras ansiando por fazer o máximo de filmes no menor tempo possível e com o menor gasto viável. Porém, isso será à custa de algumas coisas, principalmente de um bom roteiro. Pegue, por exemplo, o filme que me inspirou a fazer esse texto: “Minha Culpa Londres”, o qual não é apenas um “remake” de um filme lançado em 2023 com o mesmo contexto, mas também apresenta um roteiro completamente preguiçoso. Personagens rasos, conflitos ilógicos que são resolvidos em segundos e situações batidas que todos se cansam de escutar. Esse filme, como outros diversos lançados recentemente, parece ter um mesmo objetivo: mostrar uma vida irrealista cheia de ostentações, um protagonista masculino com um passado obscuro e decisões duvidosas e uma protagonista feminina que se beneficiaria muito de ouvir os conselhos de sua mãe.
Quando pegamos histórias assim e comparamos com roteiros mais antigos a diferença é gritante. Para conseguir demonstrar meu ponto, vou usar um dos filmes que acho mais subestimado: “Um Lugar Chamado Notting Hill”. O filme, mesmo com uma das figuras mais sacanas já feitas (Anna Scott), consegue aprofundar a história de cada integrante da ficção, com motivações claras e construções complexas de personagens. William, por exemplo, não é só o homem “nerd” bonitão, mas também é sensível, sarcástico e um pouco sem noção. Consigo ver ele como um ser humano de verdade. A história em si tem uma mensagem que quer transmitir. Ela foi feita com carinho e atenção aos pequenos detalhes.
Essa dificuldade atual não vem só em retratar a paixão em si, mas também as bobagens do cotidiano. Não tem graça em mostrar alguém que passa seu dia todo mexendo no celular. Por outro lado, mostrar uma competente jornalista, atrapalhada, tentando não fazer nada de errado (“O Diário de Bridget Jones”) ou um pai solteiro que trata o filho quase como seu melhor amigo (“Sintonia de Amor”), isso sim é interessante. Não é que todo mundo só saiba ficar online o tempo todo, mas com essa tentativa de retratar a realidade de maneira perfeita, perde-se a oportunidade de representar o ridículo e o banal, como ficar procurando sinais do universo sobre o futuro (“Escrito nas Estrelas”).
Ademais, a própria modernidade é um dificultador do processo. Fazer filmes sobre o agora, quando o agora é um momento de tanta incerteza, é um desafio. Nós estamos mudando o jeito que nos relacionamos uns com os outros muito rápido e ainda estamos à procura de uma forma de retratar essas interações de um modo verídico. Representar o maior flerte que existe atualmente – adicionar alguém no seu “close friends” – de maneira épica e cinematográfica é muito mais difícil do que criar um personagem que constrói sozinho a casa dos sonhos da mulher por quem está apaixonado. Isso é exatamente o que acontece em “Diário de uma Paixão”, que, apesar de surreal para nós, se encaixa perfeitamente no contexto da obra.
Meu último ponto é que o romance é visto como algo feminino, o que faz com que ele seja desprezado por muitos. Obviamente, isso já é um ideal antigo, mas, na última década, o movimento de tentar reprimir o que é “para mulheres” cresceu muito. Isso pode ser visto em todas as personagens que “não são como as outras garotas”, as quais, mesmo estando em romances, tentam se afastar de tudo que é estereotipado como feminino demais. Esse desprezo pela feminilidade faz a tentativa de fazer um filme bom diminuir. “Ah, bota um homem bonito falando baboseira e elas ficarão satisfeitas” vira rapidamente um discurso amplamente declamado. Mas a verdade é que os romances não são só para mulheres. O amor é um sentimento geral que pode fazer qualquer um se identificar, motivando diversos eventos que marcam a história. É o amor que merece homenagens complexas, bem feitas, belas e repletas de significados, que fazem qualquer um se comover.
Com isso, deixo bem claro que não estou criticando, em geral, os diretores, roteiristas, atores, cineastas, etc. Dirijo minha crítica às produtoras, aos “chefões” de todo mundo que não valorizam a arte pelo que ela é, impedindo que trabalhadores talentosos soltem sua criatividade. Além disso, isso não é uma crítica a você. Caso ame os romances atuais, continue aproveitando os filmes e seja feliz. Existem obras recentes maravilhosas, que têm exatamente todos os elementos que busco em um filme romântico, mas são exceções. Os romances são uma forma válida de expressão artística, e tudo o que eu peço é que o amor seja tratado nas telas de maneira digna, permitindo que experimentemos o poder que esse sentimento nos traz. A gente precisa dele.
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