Relato Pessoal por Lorena Durans em 27 de agosto de 2024
Publicado por Maria Laura
Desenho de uma menina com feição triste
Já se imaginou em uma situação de rua, após ter abandonado sua casa porque seu pai o espancava, ameaçava matar sua mãe e seus irmãos? Vou contar um pouco da história de Izaias, um menino de 12 anos que conheci. Ele trabalha fazendo caricaturas para se manter e mora com o primo depois de ter saído de casa antes dos 10 anos.
Izaias chegou dizendo que trabalhava fazendo caricaturas. Quando percebi, ele já estava sentado na minha frente e me desenhando. Começamos a conversar e, por mais que eu falasse – e falasse muito –, ele falava ainda mais. Ele ia desenhando e conversando; desenhando e conversando, e conversando. Perguntou se eu já tinha viajado, onde eu morava, se meus pais eram pessoas boas e se meu cabelo era natural. Eu respondia e ele logo falava mais – de vez em quando parava de desenhar e batia a parte de trás do lápis na mesa enquanto falava.
Izaias começou a falar sobre a sua vida, e o que escrevi no início é apenas o começo da história dele. Hoje, Izaias tem 12 anos, mora com o primo e o sobrinho – que ele se encantou ao falar e afirmou com muita certeza ser a criança mais linda do mundo.
Ele disse que um dia estava no ônibus e um tatuador elogiou seus desenhos, oferecendo-lhe um curso de tatuagem. E pasmem qual é o sonho dele: ser tatuador! Como a vida está longe de ser um mar de rosas, outro dia Izaias encontrou um homem que – desculpem o termo – despejou palavras negativas sobre ele, dizendo que ele não conquistaria nada. Izaias me contou isso desejando que o homem fosse com Deus. Ele me falou muito sobre Deus. O Deus de Izaias era a definição de amor, humildade e caridade. Izaias me disse que o que queria era dinheiro para ter sua própria casa com garagem, um carro e uma moto, e condições de ajudar todos que precisam. Esse menino passou pelo inferno na terra, e tudo o que saia dele era bondade. Não pureza, porque a vida tirou isso dele cedo, mas ele é um menino bom, uma pessoa boa, que transborda e muda os ambientes – e digo isso na esperança de que a vida não tire dele a bondade.
Enquanto ele desenhava e falava de Deus, caridade, medos, desconfianças e relacionamentos turbulentos, eu pensava que a arte salvava aquele menino. Aquelas caricaturas talvez não estivessem dando apenas dinheiro a ele, mas também vida.
Eu falei:
– Izaias, você é um artista incrível. Espero que nunca pare de fazer arte.
– Arte é aquilo que fazem em parede?
– Também, mas o que você está fazendo também é arte!
Ele gostou da ideia de ser artista – e eu também – mesmo que não entendesse isso completamente. Quase duas horas depois, ele terminou a caricatura, me disse que o dia dele tinha melhorado depois de me ver, que eu era atenciosa e olhava nos olhos dele.
Fui embora e até agora penso como o mundo pode ser cruel.
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