Reportagem por Ana Carolina Daldegan Couto em 22/09/2021
Em clima de Jogos Olímpicos, o maior evento esportivo do mundo, é notória uma confluência de diversas culturas e etnias, além de diferentes posicionamentos críticos entre atletas e equipes. Nesse contexto, constatam-se discussões relevantes acerca da participação de mulheres nos esportes, observando-se, assim, a luta constante de atletas pela igualdade de gênero e contra a discriminação, a exclusão de mulheres e a sexualização de corpos femininos.
Ao analisar o contexto histórico, verifica-se que o esporte, desde sua origem até meados do século XX, foi majoritariamente praticado pelo sexo masculino. Na Grécia Antiga, as mulheres eram proibidas tanto de competir quanto de assistir às Panatéias (primeiros jogos olímpicos), sob pena de morte. A justificativa utilizada era que a região montanhosa do Stadium (local onde realizavam as provas) poderia causar danos aos frágeis corpos femininos. No entanto, o argumento era, de fato, político, pois as mulheres, marginalizadas pela sociedade da época, eram privadas de cidadania, logo, não possuíam direitos da vida pública.
De acordo com a educação ateniense, mulheres na infância realizavam atividades esportivas junto aos homens, porém na vida adulta, seus papéis se restringiam ao âmbito doméstico.
Já na educação em Esparta, há estudos que indicam mulheres adultas disputando jogos e até participando de reuniões da vida política, o que reforça o caráter audaz e militar da sociedade espartana.
A primeira participação de uma mulher de que se tem conhecimento nos jogos olímpicos da Antiguidade foi a da princesa espartana Kyniska, filha do rei Archidamus II, que competiu na prova quadriga, na qual uma carroça é conduzida por quatro cavalos.
Na Idade Média, as mulheres participavam de algumas atividades esportivas, mas ainda eram subjugadas pelos homens. Do século XVII até final do século XIX, a participação feminina nos esportes foi vetada, haja vista a sociedade machista e patriarcal daquele tempo.
Já na Era Moderna, as olimpíadas foram retomadas por Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, em Atenas, no ano de 1896. Ainda assim, foi vetada a participação feminina.
Segundo Pierre: “Uma mulher olímpica seria pouco prática, desinteressante, inestética e incorreta. Os Jogos Olímpicos devem ser reservados aos homens. O papel da mulher deve ser antes de tudo coroar os campeões”.
Segundo fontes contemporâneas, uma segunda mulher, “Melpomene”, também correu a maratona de 1896. Há um debate entre os historiadores olímpicos sobre se Revithi e Melpomene são ou não a mesma pessoa. (legenda)
Hélène de Pourtalès foi a primeira mulher a receber um ouro olímpico em 1900. Representando a Suíça, ela velejou na modalidade mista junto ao seu marido.
Dessa forma, a inclusão das mulheres nos jogos foi evoluindo gradativamente de acordo com o esporte e a modalidade. Nos anos seguintes, foram incluídas as modalidades femininas para arco e flecha, natação, mergulho, ginásticas e algumas do atletismo.
Vale ressaltar que no Brasil, durante o período da Ditadura de Vargas, a legislação proibia a participação de mulheres nos esportes. Segundo o decreto-lei nº 3.199, criado em 14 de abril de 1941, “Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. Já em 1965, o Conselho Nacional de Desportos proibiu a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo-aquático, pólo, rugby, halterofilismo e baseball. Somente em 1983, esse decreto foi revogado e mulheres foram permitidas a competir e serem atletas.
Fica claro, portanto, que as mulheres vêm conquistando desde cedo seu espaço no esporte. Apenas em 2012, quando a modalidade boxe feminino foi incluída na Olimpíada de Londres, foi possível afirmar que a participação de mulheres em todas categorias esportivas foi efetivada. Assim, a luta constante pela inclusão e igualdade de gênero no esporte é algo que se observa até os dias atuais.
É evidente que, ainda hoje, encontramos muitas injustiças nos esportes, por exemplo, a desigualdade nos salários, o preconceito, casos de assédio, violência e sexualização de corpos femininos. Esta última veio à tona durante as Olimpíadas de Tóquio de 2020, na qual a equipe da Noruega de handebol de praia foi multada por violar o código de vestimenta, uma vez que usou short no lugar da parte de baixo do biquíni. Outrossim, a equipe de ginástica olímpica da Alemanha optou por usar macacões ao invés de collants tradicionais como forma de protesto contra a sexualização no esporte.
Diante disso, é necessário minimizar a desigualdade de gênero nos esportes, visto que homens e mulheres possuem os mesmos direitos políticos e sociais. Para isso, a valorização e incentivo da prática desportiva feminina são essenciais e podem ser alcançados por meio da igualdade de salários e da visibilidade de atletas na imprensa e na mídia. O esporte é para todos.
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