Reportagem por Ana Belle Silva Ramos em 26 de abril de 2022
Publicado por Maria Clara Pedroza Santos
“Pois as mulheres permaneceram dentro de casa por milhões de anos, então a essa altura até as paredes estão impregnadas com sua força criativa.” Afirma Virginia Woolf, em sua notável obra “Um teto todo seu”, publicada pela primeira vez em 1929, constatando que a figura feminina, oprimida durante séculos, nunca parou de ter uma mente inventiva e fértil. Muitas são as notáveis reconhecidas mulheres na literatura, contudo, ainda existem aquelas que foram apagadas pelo tempo, e algumas passaram por grandes injustiças durante seus processos criativos. Mas quem são estas brilhantes autoras e por que suas vozes ressoam, mas nunca chegam ao grande público?
Conheça-as.
Considerada por muitos a mãe da ficção científica brasileira, a escritora cearense, Emília Freitas, é um mistério em todos os seus sentidos. Publicou sua obra “A rainha do Ignoto” no ano de 1899, que se tratava do que atualmente chamamos de ficção científica feminista, uma utopia que tinha como líderes, as mulheres. Por meio desta obra, podemos compreender a mente da escritora e sua necessidade de comunicação com a sociedade, pois quem escreve, escreve para alguém e escreve para ser lido. Além de lutas sociais como a desigualdade de gênero, Emília abordava o abolicionismo, o autoritarismo e a desigualdade socioeconômica. Uma mulher verdadeiramente muito à frente de seu tempo.
Zelda Fitzgerald, junto ao seu marido, fazia parte da alta sociedade e foi um símbolo da América moderna da década de 20. Ícone da Era do Jazz, ao se dedicar à pintura e à escrita, publicou seu primeiro livro, de título “Save the Waltz”, contudo, foi pouco reconhecida, vendendo poucos exemplares. Ironicamente, seu marido, Scott Fitzgerald, ao plagiar seu diário, silenciá-la e publicar a obra “The Great Gatsby” sem o consentimento de que parte de sua arte estava alí, ficou conhecido mundialmente, e até hoje é apreciado como um gênio, enquanto Zelda permanece em sua sombra como a infeliz esposa do autor. Teve sua saúde mental extremamente deteriorada, trágico foi seu fim na instituição Highland Hospital. Sua história, inclusive, é contada na obra audiovisual “Z: O início de tudo.”
Christine de Pisan nasceu em 1364, em Veneza, durante a Era Medieval, uma era conturbada na Europa. Foi magnífica como filósofa, escritora, intelectual e política. A maestria é algo que a define. Foi a primeira a viver de sua arte, a escrita, sustentava três filhos e sua mãe. Publicou 15 livros, o seu mais consagrado romance se chama “A cidade das mulheres”, nele, evasivamente, Christine cria uma (infelizmente) cidade fictícia onde mulheres têm seu devido respeito e dignidade. Viva, suas habilidades desafiavam grandes escritores de sua época. Seus ideais moldaram o que hoje chamamos de feminismo, mesmo tendo vivido séculos antes.
Maria Firmina dos Reis foi uma talentosa mulher nascida em 1822, sendo negra e nordestina, vivendo num contexto de enorme segregação racial, foi, além da primeira romancista brasileira, a primeira escritora negra do Brasil e, uma de suas obras, Úrsula, assinado pelo pseudônimo “Uma maranhense”, aborda temática abolicionista, fazendo com que Maria Firmina dos Reis seja uma das primeiras precursoras do tema no país, usando sua arte como instrumento para a defesa de sua causa. Recebeu certo reconhecimento em vida, todavia, faleceu cega e pobre.
Freira e poeta mexicana, Juana é, até hoje, uma incógnita do Barroco, pois poucos são os registros que temos dela (a maioria se perdeu). Contudo, deixou para nós um acervo inestimável de poesias, sonetos, peças teatrais e outros escritos, os quais, muitas vezes, fazem denúncia à sociedade machista e patriarcal do México colônia. Em tempos de Inquisição, ela sobreviveu à perseguição da igreja, e, ainda que a educação fosse exclusiva do clero masculino, desafiou essa desigualdade. Morreu em 1695, com 43 anos, na Cidade do México.
Conhecida pela autora de Genji Monogatari, muito antes de Dom Quixote, a autora japonesa, Murasaki Shikibu, criou uma singela forma de narrar, que hoje reconhecemos como romance. Sua influência no cenário literário ultrapassa as barreiras nipônicas e coordena o desenvolvimento da prosa no Japão. Os registros sobre sua vida são muitos, contudo, não sabemos qual, de fato, era seu nome. Alguns afirmam que seu verdadeiro nome era Fujiwara no Kaoriko, devido a uma menção dela no diário de outra mulher na corte. Ainda que permaneça com seu nome desconhecido, não deixa de ser uma artista merecedora de aclamação.
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