Resenha

Desesperançado amor

Desesperançado amor

Resenha por Maria Fernanda Santos Feitosa em 30 de março de 2022


Publicado por Maria Rita Mamede

Livro “É assim que acaba”, escrito por Colleen Hoover. (Reprodução da Imagem: Quarto dos Livros).

“Nós não paramos de amar uma pessoa só porque ela nos magoou”

Você já imaginou amar alguém que te machuca? Bem, imagine isso. O pai de Lily abusou de sua mãe a sua vida toda, e ela sempre a culpou, sempre se perguntava “por que ela simplesmente não vai embora?”. Agora, Lily conseguiu sentir na sua pele o que sua mãe experienciou todos os dias por anos e anos de sua vida.

O livro “É Assim que Acaba” nos permite ver o quanto as vítimas de violência doméstica e relacionamento abusivo sofrem, e o quão fortes elas são. Nós – as pessoas que nunca tiveram essa experiência traumatizante – nunca iremos entender como é estar nesta situação, mas podemos ter empatia e tentar ajudar essas pessoas, podemos mudar a visão que a sociedade impôs sobre nós: que as vítimas são culpadas, que é fácil sair dessa situação. Portanto, esse livro tem grande impacto e importância para a nossa população e para gerações futuras. A autora Colleen Hoover fez um grande trabalho em propagar essa mensagem, porém ela não foi a primeira.

Escritores, poetas e cantores, todos buscam abordar temas relevantes – tanto sociais como pessoais – que precisam ser discutidos. Um exemplo é a poeta Hilda Hilst, que aborda em seu poema chamado “Do amor contente e muito descontente – I” como é experienciar um relacionamento abusivo e infeliz.

Do amor contente e muito descontente – I

por Hilda Hilst
Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.
Tenho me fatigado tanto todos os dias 
Vestindo, despindo e arrastando amor
Infância,
Sóis e sombras.
Vou dizer coisas terríveis à gente que passa.
Dizer que não é mais possível comunicar-me.
(Em todos os lugares o mundo se comprime.)
Não há mais espaço para sorrir ou bocejar de tédio.
As casas estão cheias. As mulheres parindo sem cessar,
Os homens amando sem amar, ah triste amor desperdiçado
Desesperançado amor… Serei eu só 
A revelar o escuro das janelas, eu só
Adivinhando a lágrima em pupilas azuis
Morrendo a cada instante, me perdendo?

Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.
Preparo-me e aceito-me
Carne e pensamentos desfeitos. Intentemos,
Meu pai, o poema desigual e torturado.
E abracemo-nos depois em silêncio. Em segredo.

O poema retrata o fardo de carregar essa mágoa, a melancolia que a pessoa reprime. O trecho “Serei eu só a revelar o escuro das janelas, eu só adivinhando a lágrima em pupilas azuis morrendo a cada instante, me perdendo?” mostra-nos o quanto as vítimas se culpam e o quanto elas buscam a liberdade, o que também podemos observar enquanto lemos a história de Lily. O fator mais marcante em ambas as obras, mas principalmente no poema, é o quanto a pessoa tenta sair da situação, e como a pessoa tenta reprimir e mostrar para o resto da comunidade que está tudo bem, mas no fundo nada está bem – “E abracemo-nos depois em silêncio. Em segredo.”. Mas às vezes o silêncio fica muito barulhento, e a pessoa não consegue mais tolerar.

O processo de denúncia é raro e doloroso. A vítima se sente exposta e, na maioria das vezes, culpada de sua situação. Anos atrás, a vítima não tinha escolha, a denúncia não era tolerada e a situação perigosa era considerada normal. Por conta da Lei Maria da Penha (Lei N°11.340), sancionada em 7 de agosto de 2006, as vítimas conseguiram um raio de esperança. Como mencionado anteriormente, a denúncia é rara por conta do medo constante enfrentado pela pessoa, mas, quando a lei entrou em vigor, mais vítimas se posicionaram, e o encorajamento foi cultivado. Por isso, graças à Lei Maria da Penha muitas vidas foram salvas, e as vítimas conseguiram se libertar desse peso acorrentado a elas. 

O livro “É Assim que Acaba” traz verdades dolorosas para a nossa sociedade, mas que são necessárias. Ele tem o poder de mudar a visão de grandes povos. A nossa população precisa adquirir conhecimento desse ponto de vista e aprender a ter compaixão e empatia pelos outros. As pessoas passam muito tempo se perguntando por que as vítimas não vão embora. Onde estão as pessoas que se perguntam por que os humanos são abusivos? Talvez estejam em algum lugar tentando achar a sua voz, porém nunca saberemos se ninguém se posicionar.

Se interessou pelo livro?

Playlist inspirada na história:

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Maria Fernanda Santos Feitosa

Oii, meu nome é Maria Fernanda, sou uma das jornalistas da folha única. Gosto muito de ler, escrever e sair com os meus amigos. Espero que vocês gostem do meu trabalho!

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