Resenha

Patricinhas de Beverly Hills: Jane Austen, moda e desconstrução

Patricinhas de Beverly Hills: Jane Austen, moda e desconstrução

Resenha por Bianca Miranda Soares em 29 de abril de 2022


Publicado por Maria Luiza Balbo

As Patricinhas de Beverly Hills (Reprodução da imagem: Garotas Estúpidas)

Pense em uma adaptação cinematográfica de um livro escrito no começo do século XIX. Aposto que a imagem que surgiu em sua cabeça segue os moldes de Orgulho e Preconceito, com vestidos de baile, salões suntuosos e homens de costeletas. Patricinhas de Beverly Hills, no entanto, não poderia ser mais oposto a  tudo isso. Em 1995, a roteirista e diretora, Amy Heckerling, conseguiu traduzir um dos maiores clássicos de Jane Austen, Emma, para um contexto colegial americano, com vários dos estereótipos mais comuns do cinema adolescente da época. Essa aposta de Heckerling fez com que o filme assumisse um espaço cativo na cultura pop, influenciando a moda e o cinema.

Na obra original, somos apresentados à Emma, uma moça da alta sociedade inglesa, que por viver absorta em um mar de privilégios, sente-se na necessidade de ajudar pessoas mais desafortunadas que ela a acharem seu rumo na vida, entretanto, o grande problema da questão é que Emma é quem escolhe qual o caminho certo, sem qualquer participação do ajudado. No filme, Emma se torna Cher (Alicia Silverstone) e por serem personagens “equivalentes” apresentam diversos traços em comum, sendo o principal deles a necessidade de tentar “ajudar” os outros. Durante o enredo da obra cinematográfica, Cher, com a sua melhor amiga, Dionne (Stacey Dash), resolvem ajudar a recém-chegada Tai (Brittany Murphy) a se encaixar na nova escola e, para isso, transformam a garota completamente.

A primeira vista, Cher pode parecer apenas mais uma das centenas de garotas malvadas que estamos acostumados a ver em filmes desse tipo, más, sem razão aparente, e que vivem de manipular e transformar todos a depender de suas vontades, entretanto, ela é o oposto disso. A protagonista, por viver em um meio de superficialidades , acredita que sua caridade e boas ações devem ser destinadas à popularidade e estética, é por isso que ela ajuda Tai, transformando-a em uma cópia sua, sem se importar com o que a garota acha. Cher pensava que essa era a única maneira de incluí-la no ciclo social da escola, no entanto, ao decorrer do filme ela percebe que estava errada e, a partir disso, trabalha na desconstrução do estereótipo de menina fútil, passa a se preocupar com problemas reais e consegue furar sua bolha de privilégios para destinar suas boas ações a quem realmente precisa.

Outro aspecto importante desse filme, além da desconstrução da ideia pré concebida de menina má, é a moda. O figurino, assinado por Mona May, desempenhava um papel fundamental na narrativa, já que demarcava a passagem de tempo no enredo, demonstrava a evolução das personagem e a resolução de seus conflitos individuais. Além disso, o figurino do filme exerce um papel ainda mais importante fora das telas, visto que foi responsável por uma ruptura no padrão estético vigente e segue influenciando a moda até os dias atuais.

O filme foi lançado em meados dos anos 90, período em que ocorria a ascensão de bandas como o Nirvana e Pearl Jam que influenciavam os jovens não só com suas letras, mas também com seu estilo mais relaxado, camisas de flanela e calças folgadas. Patricinhas de Beverly Hills vai à contramão do que os jovens vestiam na época, apresentando silhuetas mais femininas e demarcadas, além de apresentar uma alta experimentação de cores e texturas. Toda essa inovação fez com que inúmeras jovens procurassem se vestir como Cher e suas amigas, o que fez o estilo das “patricinhas” tomar conta de diversos guarda-roupas noventistas. Atualmente, com a ascensão do retrô, peças inspiradas nas do filme continuam aparecendo nas passarelas e lojas de departamento ao redor do mundo.

No fim das contas, Patricinhas de Beverly Hills apresenta um saldo positivo ao apresentar uma história de redenção engraçada e escolhas estéticas bastante ousadas que funcionam  bem e consagram a obra como um clássico cult. Sendo assim, caso goste de moda ou tenha uma tarde livre e queira ver um filme engraçado, Patricinhas de Beverly Hills é uma ótima pedida!

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Bianca Miranda Soares

Desde que me entendo por gente, sempre amei ler e escrever, por isso me empolguei com a Folha Única, já que seria uma oportunidade de cultivar e praticar esses hábitos. Além da escrita e leitura, a música também ocupa grande parte do meu tempo livre, seja ouvindo minhas bandas favoritas, seja tocando violino. Também sou apaixonada por cinema e adoro passar horas assistindo filmes ou pesquisando sobre seus detalhes técnicos. No fim das contas, amo a arte e tudo aquilo que ela pode nos oferecer.

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