Dostoiévski e o desespero humano

Dostoiévski e o desespero humano

Resenha por Cecilia Araújo em 07 de abril de 2022


Publicado por Maria Rita Mamede

Capa do livro "Crime e castigo" de de Fiódor Dostoiévski em um fundo cheio de entulhos.
“Crime e castigo” de de Fiódor Dostoiévski. (Reprodução da imagem: Saga Literária)

Mundialmente conhecido e aclamado por sua genialidade e criatividade, Fiódor  Dostoiévski foi um autor, jornalista e filósofo do Império russo no século XIX. “Irmãos  Karamazov”, “O Idiota”,  “Memórias do subsolo”, entre outros, fazem parte de  algumas de suas obras que influenciaram grandes pensadores, como Nietzsche e Freud, que  inovaram o pensamento ocidental em sua respectiva época. “Crime e castigo”, publicado em  1866, é provavelmente seu livro mais famoso, podendo ser considerado um ensaio  psicológico analítico sobre a mente humana.

A obra se passa em São Petesburgo e expõe a mente de Raskolnikov, ex-estudante de Direito, que teria um futuro promissor, mas, por razões econômicas, viu-se obrigado a desistir da faculdade. À medida que o desespero o invade, o  protagonista decide pôr fim aos seus problemas financeiros, assassinando a velha  Alyona Ivanovna, agiota muito rica que lhe aluga um quarto minúsculo, o qual ele paga  penosamente penhorando seus objetos pessoais. Apesar de alguns imprevistos, ele  comete o ato e precisa encarar uma série de consequências que abalarão profundamente sua vida.

“Crime e castigo” explora a psique assassina e perturbada, mas extremamente  humana de Raskolnikov. Neste contexto, Dostoiévski aborda e aprofunda temas como  desespero, remorso, culpa, loucura, delírio e insanidade,  além de desenvolver teorias como a  do “homem extraordinário”, posteriormente analisada e incorporada nas ideias de Nietzsche.

O cenário problemático de pobreza, exposto através da descrição de ambientes e personagens, é uma parte marcante da história, com ênfase nas dificuldades que a desigualdade social pode gerar. O protagonista, frustrado e  desesperado pela vida que vive e pelas oportunidades perdidas por razões financeiras, vê-se sem opções e recorre à violência como forma de resolução de  seus conflitos. 

Assim, é possível estabelecer um paralelo com a sociedade brasileira, que enfrenta a grave e antiga crise da desigualdade social, que gera altos índices de violência, especialmente nas classes desfavorecidas. A restrição econômica traz consigo um caos social, associado ao desespero e à agressão, resultando em pessoas revoltadas e  inconformadas por uma situação que não escolheram viver. Esses indivíduos não são  maus e prefeririam tomar outras decisões mas, assim como Raskolnikov, se veem sem  opções e caem no caminho da criminalidade como solução e mecanismo de sobrevivência.

A obra faz, entre outras críticas, um forte paralelo da desigualdade social do  Império russo no século XIX com a situação atual, não muito diferente. A leitura é  bastante lenta, demorando para desenvolver elementos fundamentais da história, além de empregar um vocabulário complexo, o que prejudica um pouco a dinâmica do  romance. Entretanto, em matéria de conteúdo, “Crime e castigo” não deixa nada a  desejar, sendo uma obra que provoca muitas reflexões interessantes. Ela abre a mente  do leitor e o leva por uma viagem psicológica. Recomendo o livro às pessoas que  gostam de refletir sobre a vida e seu significado e que já tenham hábito de leitura. 

Nota: 7,5/10

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