Publicado por Maria Rita Mamede
Mundialmente conhecido e aclamado por sua genialidade e criatividade, Fiódor Dostoiévski foi um autor, jornalista e filósofo do Império russo no século XIX. “Irmãos Karamazov”, “O Idiota”, “Memórias do subsolo”, entre outros, fazem parte de algumas de suas obras que influenciaram grandes pensadores, como Nietzsche e Freud, que inovaram o pensamento ocidental em sua respectiva época. “Crime e castigo”, publicado em 1866, é provavelmente seu livro mais famoso, podendo ser considerado um ensaio psicológico analítico sobre a mente humana.
A obra se passa em São Petesburgo e expõe a mente de Raskolnikov, ex-estudante de Direito, que teria um futuro promissor, mas, por razões econômicas, viu-se obrigado a desistir da faculdade. À medida que o desespero o invade, o protagonista decide pôr fim aos seus problemas financeiros, assassinando a velha Alyona Ivanovna, agiota muito rica que lhe aluga um quarto minúsculo, o qual ele paga penosamente penhorando seus objetos pessoais. Apesar de alguns imprevistos, ele comete o ato e precisa encarar uma série de consequências que abalarão profundamente sua vida.
“Crime e castigo” explora a psique assassina e perturbada, mas extremamente humana de Raskolnikov. Neste contexto, Dostoiévski aborda e aprofunda temas como desespero, remorso, culpa, loucura, delírio e insanidade, além de desenvolver teorias como a do “homem extraordinário”, posteriormente analisada e incorporada nas ideias de Nietzsche.
O cenário problemático de pobreza, exposto através da descrição de ambientes e personagens, é uma parte marcante da história, com ênfase nas dificuldades que a desigualdade social pode gerar. O protagonista, frustrado e desesperado pela vida que vive e pelas oportunidades perdidas por razões financeiras, vê-se sem opções e recorre à violência como forma de resolução de seus conflitos.
Assim, é possível estabelecer um paralelo com a sociedade brasileira, que enfrenta a grave e antiga crise da desigualdade social, que gera altos índices de violência, especialmente nas classes desfavorecidas. A restrição econômica traz consigo um caos social, associado ao desespero e à agressão, resultando em pessoas revoltadas e inconformadas por uma situação que não escolheram viver. Esses indivíduos não são maus e prefeririam tomar outras decisões mas, assim como Raskolnikov, se veem sem opções e caem no caminho da criminalidade como solução e mecanismo de sobrevivência.
A obra faz, entre outras críticas, um forte paralelo da desigualdade social do Império russo no século XIX com a situação atual, não muito diferente. A leitura é bastante lenta, demorando para desenvolver elementos fundamentais da história, além de empregar um vocabulário complexo, o que prejudica um pouco a dinâmica do romance. Entretanto, em matéria de conteúdo, “Crime e castigo” não deixa nada a desejar, sendo uma obra que provoca muitas reflexões interessantes. Ela abre a mente do leitor e o leva por uma viagem psicológica. Recomendo o livro às pessoas que gostam de refletir sobre a vida e seu significado e que já tenham hábito de leitura.
Nota: 7,5/10