Publicado por Maria Rita Mamede
A procura pela vida perfeita vale a pena?
“Coraline” é um filme de animação stop-motion estadunidense de 2009, do gênero fantasia, escrito por Henry Selick, também conhecido por trabalhar como diretor em “O Estranho Mundo de Jack”, e baseado no livro do Neil Gaiman, autor de diversas obras aclamadas pela crítica (Good Omens, Stardust e Deuses Americanos).
Na obra norte-americana, Coraline se muda para um novo apartamento e encontra-se entediada, já que seus pais estão sempre ocupados com o trabalho e, por isso, lhe dão pouca atenção. Sentindo-se isolada, a protagonista sai para explorar o local e acaba encontrando uma porta trancada cuja entrada foi bloqueada por tijolos. No dia seguinte, ela consegue, finalmente, abrir a passagem e, a partir dela, é levada a uma versão alternativa e aparentemente melhor de sua vida.
No local, ela conhece sua Outra Mãe e seu Outro Pai, que a apresentam um mundo perfeito e são uma réplica muito parecida de seus pais verdadeiros, exceto pela presença de botões no lugar dos olhos. Esses Outros Pais parecem, de início, mais interessantes, divertidos e atenciosos que seus pais verdadeiros; porém, nada é perfeito e, quando Coraline retorna à sua casa original, ao final do dia – após ter recusado a oferta de continuar no Outro Mundo, pois ela não queria ter que costurar olhos de botões em seu rosto –, a protagonista descobre que seus pais reais sumiram.
Dessa forma, a narrativa se desenvolve a partir do sequestro dos pais de Coraline e as tentativas dela de salvá-los e também salvar a si mesma. Toda vez que uma nova criança se mudava para aquela casa, a bruxa se disfarçava de sua suposta “Outra mãe” e a seduzia para roubar sua alma e aprisioná-la. Além disso, a garota também tenta recuperar as almas perdidas das crianças sequestradas anteriormente, para que elas possam finalmente se libertar.
Ao final do filme, Coraline consegue aparentemente derrotar a bruxa, jogando a chave que abria a porta do Outro Mundo fora e, consequentemente, salvando seus pais e as almas das crianças que haviam sido roubadas. Entretanto, nota-se na última cena da obra cinematográfica, que o mesmo jardim o qual havia sido utilizado para representar o rosto de Coraline na realidade paralela, durante um momento da narrativa, agora remete às feições da Outra Mãe, evidenciando que, embora a cena final do filme pareça uma celebração, pequenos detalhes assustadores sugerem que algo de ruim ainda está por perto e o perigo continua iminente.
É possível notar, ao decorrer da trama, diversas simbologias que enriquecem cada vez mais a história e fazem com que ela permaneça interessante, mesmo assistindo ao filme mais de uma vez. A cada nova sessão, é possível perceber pequenos detalhes escondidos na narrativa, que provavelmente haviam passado despercebidos anteriormente. Os olhos de botões, por exemplo, seguem um antigo provérbio “nosso olhos são as janelas para a alma”, simbolizando o fato de que, se Coraline aceitasse a oferta de continuar no Outro Mundo, a comunicação entre sua alma e o mundo externo seria rompida, alcançando assim o ápice de sua degradação.
A mensagem final do filme não se trata de um conselho para que o público tenha medo de sonhar, mas para não deixarmos de valorizar o que a vida nos oferece, já que muitas vezes as tristezas, decepções e obstáculos, apesar de trazerem sua carga negativa, podem estar nos protegendo de prosseguir por um caminho que aparenta ser maravilhoso, porém seu viés também pode representar a nossa destruição.
Pela preocupação do escritor do livro e do roteirista do filme em trazer essas pequenas simbologias, que enriquecem a trama e fazem com que os espectadores, após assistirem ao filme, criem diversas teorias sobre a narrativa e se prendam a elas por um longo período, a obra recebe seus merecidos 90% de aprovação no Rotten Tomatoes (um site de críticas cinematográficas) e a aclamação da crítica ao ser indicado tanto para o Oscar quanto para o Globo de Ouro, pois, ao mesmo tempo em que “Coraline” consegue trazer o terror, a narrativa também diverte e entretém, fazendo com que o espectador deseje cada vez mais pesquisar sobre o Outro Mundo e descobrir como ele funciona ativamente.
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