A sociedade das vitrines

A sociedade das vitrines

Resenha por Rebeca Bello em 11 de abril de 2022


publicado por Manuela Ferreira

Lendo o livro “Senhora”, o qual, aliás, é uma obra maravilhosa de José de Alencar, pude refletir sobre a visão a respeito da mulher na sociedade brasileira na época em que foi escrita. Apesar de ser considerado um romance pré-realista e ter uma personalidade forte como protagonista, o idealismo não deixa de estar presente. Um trecho marcante para mim foi aquele em que a mãe de Aurélia a expõe para as pessoas como uma possível esposa. De qual forma? Ela ia todos os dias à janela, onde vários rapazes podiam admirá-la, cantá-la e interagir com ela. Ah, vale destacar que o motivo para essa exposição era a falta de recursos financeiros da família…

Fiquei espantada ao ler isso, sinceramente, não sei se era uma prática comum nessa época, mas imagino que sim, já que, geralmente, os autores revelam a realidade em que vivem nas suas histórias, ainda que nos detalhes. De qualquer forma, é possível pensar nos sentimentos e pensamentos que me poderiam ter ocorrido se estivesse no lugar dela. Rejeição, por expressões isentas de admiração; Alento, por quem agiu de maneira respeitosa; Porém, mais do que tudo, humilhação. Humilhação por se ver rebaixada a um objeto para ser escolhido ou rejeitado por sua aparência, enquanto valores morais e a beleza interna são praticamente ignorados. Afinal, quando a beleza é superestimada, a identidade pessoal é quase que irrelevante. Forte, não é? 

Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade de vitrines, isto é, que pessoas são objetos de prazer e gozo de outros dependendo de sua posição social. Se acredita que não, responda-me: Como as crianças são escolhidas em um orfanato? O que os usuários mais valorizam nas redes sociais ao optar por seguir alguém: o conteúdo ou a aparência? A classificação de pessoas de acordo com o corpo que apresentam é um comportamento altamente incomum, ou quase cotidiano?

A estética de alguém é a primeira impressão que temos. Contudo, esta não precisa ser determinante para a perpetuação de laços ou visões interpessoais. É abominável pensar que características físicas, as quais não são escolhidas por um indivíduo ao nascer, são mais relevantes do que aquelas escolhidas e desenvolvidas por ele. 

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