Resenha por Daniella Travassos em 27 de novembro de 2022
Publicado por Ana Letícia
O livro escrito pelo autor estadunidense Daniel Keyes “Flores para Algernon” foi publicado originalmente no ano de 1959 na forma de conto pela revista The Magazine of Fantasy & Science. Keyes aumentou o conto e, no ano de 1966, publicou o seu trabalho na forma de romance e ficção científica.
A obra conta a narrativa de Charlie, um homem com uma limitação mental cujo maior sonho é ser dotado de inteligência. Para conseguir ser mais inteligente, ele vê a oportunidade de participar de um experimento científico que promete aumentar sua capacidade intelectual e cognitiva. Ele é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. Porém, assim que ele passa pela cirurgia, a sua capacidade cognitiva ficou tão elevada que ultrapassou a dos médicos que o planejaram. Contudo, Charlie começa a adquirir novas percepções e epifanias da realidade e começa a questionar e refletir sobre suas relações sociais e também sobre o papel da sua existência.
Em síntese, a narrativa é contada pelo próprio Charlie por meio dos relatórios que os cientistas responsáveis pelo experimento pedem que ele escreva para que possam ter uma observação do progresso cognitivo dele. As primeiras páginas do livro são marcadas por erros ortográficos e pelas tentativas dele de escrever algumas palavras com o vocabulário mais rebuscado. É com as observações dele que partimos desses relatórios cheios de erros para uma pessoa dotada de mais inteligência após a cirurgia.
Após o procedimento, é completamente notável pela escrita dos relatórios que ele vai ficando mais inteligente. As palavras são escritas corretamente e o vocabulário dele melhora, acentos e pontuações vão ficando mais corretos, mas a forma como ele se expressa fica diferente. Algumas memórias da infância e adolescência de Charlie começam a vir à tona no seu cérebro, porém há uma dúvida se ele realmente não se lembra daquilo ou se sua deficiência cognitiva o impedia de ver os fatos e as pessoas, como eram. Conclui-se então, que ele passa a ver sua família e as pessoas que antes acreditava serem seus amigos de outra forma, ele não tem mais uma visão tão ingênua da realidade. Da mesma maneira, conforme Charlie vai ficando mais inteligente, as pessoas passam a tratá-lo de outra forma também.
Conforme o tempo passa na trama, Charlie vai demonstrando interesse por diversos campos como: teologia, política, economia e ciência. Ele passa a demonstrar uma enorme facilidade para absorver novos conhecimentos, mas algo nele além do intelecto também mudou, as suas emoções. Charlie é um homem imaturo para a sua idade, ele não consegue compreender muitos dos sentimentos que passam a fazer parte de si e tudo ficou ainda mais complexo depois da súbita mudança. Antes, a vida para ele era só alegria, diante da sua ingenuidade, ele era basicamente uma criança, não compreendia as maldades e mazelas do mundo e via todos como seus amigos. Mas agora ele passa a questionar o mundo e todas as pessoas que estão presentes em sua vida, ele passa fazer uma análise da sua própria vida, refletindo todos os traumas que passou a recordar desde quando era criança até a sua fase adulta, incluindo a traumática convivência com sua irmã e mãe.
Charlie Gordon era um ser humano feliz, mas a partir do momento que tornou-se um homem inteligente, o mundo se torna complexo em relação ao seu passado e a felicidade é algo que está longe em sua “nova vida”. Flores para Algernon é um livro cheio de reflexões acerca de relacionamentos inter e intrapessoais, além de abordar a exclusão social de pessoas com deficiência intelectual e que deve haver uma maior conscientização para com esse grupo na sociedade. Daniel Keyes nos presenteia com um livro incrível, um livro emocionante e melancólico que com certeza tem o seu lugar entre os grandes clássicos da ficção científica e merece o lugar conquistado.
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