Para uma mulher preta, falar do amor é algo um pouco distante. Primeiro porque ninguém quer ficar com mulher preta; assumir mulheres pretas é fora de cogitação nessa sociedade racista. Segundo porque, apesar de as pessoas não quererem assumi-las, é o sonho dessas pessoas pegar uma preta, pelo fato de que somos hiperssexualizadas desde a época da escravidão.
Eu sou negra de pele clara, menstruei com 9 anos, e, se pudesse mudar isso, eu mudaria. Não pelo fato de que: “nossa, é chato menstruar!”; mas porque sofri assédio e perdi boa parte da minha infância por isso. A hipersexualização da mulher negra, principalmente do estereótipo “mulata gostosa”, não importa qual seja sua idade, chega até você; e nós, negros, que já crescemos com baixa autoestima e uma certa carência, acabamos recebendo essa hiperssexualização disfarçada de elogio. Isso é, na verdade, muito triste, pois somos colocados como meros objetos sexuais.
Estava no sétimo ano, e vinham meninos do nono ano quererem passar a mão em mim, passar a mão no meu corpo. Eu sabia que, de alguma forma, aquilo me dava uma satisfação: “nossa, estou tendo atenção, estou sendo valorizada”. Talvez, uma das cenas mais tristes de que me lembro foi quando estava numa sala com 5 meninos (da minha idade) e eles duvidaram que eu mostrasse meu sutiã. Eu mostrei e não me deixaram sair da sala; eles me prenderam lá, e eu perdi totalmente minha privacidade. Sim, eu fui abusada por 5 meninos, na sala de aula da escola.
Minha salvação foi que meu pai chegou na escola, e logo fui embora. Lembro que, na época, não entendia direito; todos aqueles garotos passavam a mão em mim, mas nenhum me dizia “oi” ou “tchau” quando estava na escola. Enquanto que, com as minhas amigas brancas, eram abraços, beijos e até namorinho de escola… mas comigo nunca tinha sido desse jeito; eram “amassos” enquanto estavam tentando namorar a branca.
Viver a solidão da mulher negra é péssimo. Reconhecer que o que você viveu foi resultado dela, aceitar que tudo que aconteceu foi por conta da sua cor e do seu fenótipo é depressivo, doloroso e difícil.
Mas é real: viver experiências sexuais antes de viver as experiências amorosas, na teoria, não é a ordem certa das coisas. Porém, enquanto minhas amigas brancas estavam sendo pedidas em namoro e convidadas para jantares, eu já estava tendo minha primeira vez… enquanto sexo ainda era um assunto bem distante para elas.
Eu sei que vou namorar e ter experiências amorosas, provavelmente quando eu sair do ensino médio ou, talvez, quando entrar na universidade e conhecer mais pessoas pretas que já tenham a consciência e a vivência das mesmas coisas que eu. Porque você sabe: ninguém quer namorar uma mulher preta, muito menos uma mulher preta consciente e empoderada.
Espero que, depois desse texto, você entenda: somos mais que só um corpo; a escravidão acabou.
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