Direitos Humanos/ Atualidades Por Julia Carvalho, em 30/03/2020
No dia 18 de fevereiro, viralizou na internet a filmagem de uma criança chorando em razão do bullying que sofria na escola. Filmado e postado por Yarraka Baileys, mãe do menino em questão, o vídeo mostra Quaden Baileys aos prantos, pedindo que o matassem e, assim, acabassem com seu sofrimento.
Quaden possui acondroplasia, o tipo mais comum de nanismo, mas ainda assim muito raro: no Brasil, por exemplo, existem menos de quinze mil casos registrados. Ele leva a pessoa a ter membros mais curtos, cabeça maior do que o considerado normal e nariz achatado. Essa condição crônica também atrasa o desenvolvimento infantil, aumenta a predisposição à obesidade e às infecções de ouvido, entre muitos outros problemas mais graves. Dessa maneira, quem sofre de acondroplasia tem de, muitas vezes, passar por procedimentos cirúrgicos, como foi o caso de Quaden em 2015. Outro problema sofrido por quem tem nanismo é, infelizmente, o preconceito. Yarraka conta no vídeo que seu filho tem de lidar com o bullying todos os dias na escola e fora dela. Na filmagem, Quaden chora desesperadamente, pedindo uma faca para se matar. A mãe compartilha, também, a necessidade de estar sempre atenta ao comportamento da criança, para impedi-la de cometer suicídio.
Mas, como enfatizado pela sra. Baileys, as crianças não são as únicas culpadas quando praticam bullying. Como elas tendem a agir conforme o grupo no qual estão inseridas, os pais e as escolas devem não só ensinar-lhes que essa prática é errada, mostrando suas consequências, como também fiscalizá-las, para garantir a existência de um ambiente saudável de convivência.
Felizmente, o vídeo de Baileys viralizou, não só conscientizando o mundo acerca das tristes consequências do bullying, mas também gerando uma mobilização para que Quaden se sentisse melhor consigo mesmo.
A equipe nacional de rugby australiana, por exemplo, chamou o garoto para entrar no campo com ela, no domingo (23), o dia mais feliz da vida do menino, segundo ele próprio. Além disso, Hugh Jackman, ator australiano que interpreta Wolverine, personagem muito bem aclamado no contexto atual, gravou um vídeo dizendo palavras de incentivo ao garoto e contra o bullying: “Você tem um amigo em mim”, disse Jackman. O comediante americano Brad Williams, também portador de acondroplasia, organizou, ainda, uma vaquinha online para levar Baileys à Disney, da Califórnia, nos Estados Unidos. Foram arrecadados mais de dois milhões de reais, os quais a família de Quaden decidiu doar para instituições de caridade.
Assim, a história do menino que cogitava suicídio para se livrar do bullying teve, até agora, um final feliz. Mas e quando ela for esquecida? Quaden provavelmente ainda lidará com preconceito até o final de sua vida e as outras inúmeras crianças que sofrem com situações de perseguição na escola receberão menos atenção ainda em relação à pouca já recebida por elas nesse contexto de valorização do assunto.
Dessa maneira, algumas questões acerca desse tópico intrigam: por que esperamos a situação chegar a um ponto extremo para lidar corretamente com ela? Por que, mesmo entre os casos mais graves, damos destaque a tão poucos? Por que esquecemos tão rápido histórias tão tristes e bárbaras? Mudemos, por favor, o nosso modo de pensar e de agir, para mudar para melhor a vida daqueles ao nosso redor.
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