O silêncio que custava asas

O silêncio que custava asas

Resenhas/ Cultura & Arte Por Julia Mansur, em 18/03/2020

O livro “O Jardim das borboletas”, de Dot Hutchison, é um suspense psicológico que conta a história de mulheres de 14 a 21 anos. Sequestradas e aprisionadas pelo “jardineiro”, elas são tratadas como peças de um jogo. O sequestrador tatua asas de borboletas nas costas delas para marcar e diferenciar umas das outras, mudando seus nomes a fim de apagar seu passado. 

O livro fala sobre Maya, uma das borboletas cuja infância foi muito conturbada. Todos os detalhes do dia a dia no jardim e dos abusos e crueldades aos quais as ‘borboletas’ eram expostas são revelados ao leitor pela perspectiva de Maya e suas lembranças. A menina, porém, não procura colaborar com o sequestrador, por possuir um temperamento forte. Ainda assim, conforme são descobertos mais elementos do passado de Maya, passa a ser mais compreensível a razão de seu comportamento atual. 

A meu ver, o livro aborda um assunto muito importante, que é a valorização feminina enquanto um elemento que exprime força, ao invés da visão romântica de uma mulher frágil e incapaz. Por abordar uma temática complicada, o livro exige grande maturidade intelectual. Quando consumido por pessoas que a possuem, pode ser considerado uma excelente reflexão sobre a conduta humana: até que ponto uma mente má é capaz de chegar para atingir seus desejos e objetivos? O fato de sermos conduzidos pela visão da vítima durante a narrativa torna a história ainda mais pessoal.

Dot Hutchison é uma escritora que não economiza em descrições e ambientação. Por meio da notória profundidade no perfil psicológico das personagens, a autora torna a leitura de “O Jardim das Borboletas” um mergulho na agonia das vítimas do Jardineiro e constrói uma personagem enigmática com habilidade cirúrgica. É muito importante que existam mulheres como ela para representar, com tanto destaque e excelência, o universo feminino e as violências que sofremos. A autora exala conhecimento em seus textos e no desenvolvimento de personagens que se assemelham a pessoas do nosso cotidiano.

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Júlia Mansur

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