Apesar de tudo, sempre imaginei que a morte nunca tocaria a campainha da minha casa. Quando alguém longe de mim morria, parecia normal e até mesmo algo do cotidiano. Aquele sentimento de reflexão sobre a vida ainda não me tocava. Eu tinha apenas quatorze anos quando meu avô morreu. No começo, fiquei bem desacreditada. Não entrava na minha cabeça como alguém podia simplesmente parar de existir. Essa coisa de ”sumir do mundo” é tão bizarra que chega a ser normal para alguns. Assim que velamos seu corpo, fui para casa. O caminho de volta foi coberto por pensamentos sobre minha vida. Não conseguia deixar de pensar em como a vida passa e em como eu já havia completado quatorze anos. Para mim, quatorze anos era
um tempo absurdo, mas depois comecei a considerar todo o tempo de vida da humanidade e me senti pequena. Então, apenas decidi parar de pensar e olhei pela janela a paisagem que passava no caminho de volta para casa. Então, assim que cheguei em casa, fui direto para o meu quarto. Ainda estava muito sensibilizada em relação ao acontecimento de algumas horas atrás. Sem muita ideia do que fazer, apenas deitei em minha cama. Comecei a olhar para o teto, e questionamentos martelaram em minha mente: Será que meu avô foi feliz? Será que ele realizou tudo o que queria? Quantas pessoas o conheciam? Quando eu morrer, alguém vai lembrar de mim? Quando essas perguntas vieram em minha mente, tudo parecia ainda mais bizarro. Então, lembrei-me de que um dia iria morrer e minha família e conhecidos teriam a memória de minha existência, ficando, assim, mais aliviada. E quando estes morrerem? Quem vai lembrar de mim? Ou do que fiz? Será que vale a pena estudar e ser alguém na vida para depois morrer? Sumir do mundo é fácil? Percebi então que, pela primeira vez na vida, eu estava com aquele sentimento de reflexão. Pensar é tão complicado que prefiro apenas brincar. Após algum tempo, ainda deitada, notei que nunca teria respostas para os meus questionamentos, que a única coisa que eu poderia fazer era viver do melhor jeito que eu conseguia, apenas esperando minha hora de sumir do mundo. Fechei meus olhos e tentei imaginar a sensação de morrer, mas logo fui interrompida por minha mãe me chamando para comer. Desci e vi meus pais sentados na mesa de jantar. Me juntei a eles e me senti melhor por saber que só tinha quatorze anos ainda. Teria muito tempo de vida para procurar respostas. Por hora, apenas iria me conformar de que a morte não toca campainha, e sim entra sem pedir licença.