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O cortês delinquente

O cortês delinquente

Contos e crônicas Por Cecília Rodrigues, em 29/04/2020

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Maurício Bongiovanni ocupava um dos cargos mais importantes da empresa na qual ele trabalhava. Certo dia, seu chefe o chamou em sua sala para informá-lo a respeito de algo. Sem entender nada, Maurício foi em direção à  sala do tão venerado chefe, que disse:

– Então, meu caro, estamos passando por uma crise extremamente complicada aqui na empresa. Logo, estamos demitindo inúmeros funcionários, e sinto lhe informar que você é um deles, desculpe-me.

Desapontado e sem compreender muito bem a razão, pois nunca fizera nada de errado, e também nunca fora demitido antes na vida, Maurício saiu da sala cabisbaixo e permaneceu assim pelos vinte minutos seguintes.

Após se conformar com o ocorrido, ele foi juntar suas coisas em seu escritório, que agora seria provavelmente ocupado por outra pessoa.

O homem saiu do estabelecimento e resolveu voltar para casa de carro. No meio do trajeto, parado em um semáforo logo na esquina de seu condomínio, avistara um homem trajando roupas humildes colocando a mão dentro da bolsa de uma mulher que estava atendendo um telefonema e parecia não estar vendo o que estava acontecendo com sua bolsa.

O sujeito tirou da moça uma certa quantia de dinheiro e que, evidentemente, o deixara bastante contente. Maurício, refletindo sobre o que acabara de presenciar, pensou que agir desta maneira poderia ser uma ótima fonte de renda provisória enquanto não tinha um trabalho garantido.

Na manhã seguinte, o determinado indivíduo levantou-se da cama com o propósito de tentar furtar alguma instalação, para conseguir um pouco de dinheiro. Ao passar por um restaurante praticamente vazio, Maurício se aproximou do operador de caixa e disse perto de seu ouvido:

– Boa tarde, nobre senhor. Estou aqui para  informá-lo a respeito de algo que, para o senhor, pode ser um tanto quanto improfícuo. Deleitar-me-ia se o senhor me alcançasse uma quantia em dinheiro correspondente a duzentos reais. Caso este não seja realizado, gostaria de te advertir de que possuo, em meu bolso esquerdo, um artefato que pode levá-lo a óbito. Portanto, aceita a proposição?

O humilde porém sagaz atendente, sem dizer uma palavra, tirou o dinheiro da caixa registradora e entregou na mão do tão educado assaltante. Este o agradeceu e saiu da venda sem dizer mais nada.

Retornando para casa, ele pensou consigo mesmo que isso poderia sim ser uma fonte de lucro permanente, e que era muito mais fácil do que ficar sentado em uma cadeira em um escritório durante oito horas.

A partir desse dia, Maurício passou a realizar seu mais novo ofício, e que, para todos que eram abordados por ele, não parecia nem ser algo ruim, pois o meliante era tão educado que fazia com que uma ação de caráter extremamente repulsivo se parecesse com uma comercialização formal, apenas pelo emprego da norma culta.

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