Entrevista com
Mateus Ferrari e
Eduardo Fernandes
Entrevistas / Cultura & Arte Por Marina Oba, em 26/05/2020
Folha Única (F) : Com a pandemia, apresentações de teatro e gravações de filmes e séries foram interrompidas. Como você acha que a classe artística está lidando com tudo isso?
Mateus (M): Mexeu muito com o nosso jeito de fazer arte. Primeiro ficamos paralisados e assustados com tudo fechado, não poderíamos apresentar peças e nem fazer shows.
Eduardo (E): Logo surgiram algumas iniciativas, como as lives, que a acabaram virando febre. Começaram a acontecer também showzinhos nas sacadas dos apartamentos. No meu prédio, e fiquei sabendo que em vários outros, alguns músicos montam aparelhagem na área de lazer do condomínio e tocam para todos os moradores. Para o teatro, é um pouco mais difícil devido à necessidade do coletivo, do encontro, dos movimentos, mas, ainda assim, atores e diretores estão fazendo videoconferência para ensaiarem, como estamos fazendo na escola, e alguns já viabilizam apresentações pelas redes sociais. Por exemplo, o Jorge Marinho, um amigo, contador de histórias, tem ótimos vídeos no Instagram e Youtube. Os vídeos têm poucos recursos e dependem de poucas pessoas para serem realizados.
F: O grupo de teatro do qual você participa continua ensaiando à distância?
M : Sim, os “Novos Candangos” está se encontrando semanalmente para discutir inclusive formas de trabalhar nesse período obscuro.
E : Os dois grupos de teatro da escola estão se encontrando virtualmente com regularidade e com muito empenho e dedicação. Nesse momento em que estamos estudando os textos, tem funcionado bem, mas, já conseguimos perceber a falta que faz o encontro presencial, a demonstração das ações físicas dos personagens, o olhar das outras pessoas.
F : Já surgiu alguma iniciativa provisória para auxiliar os artistas de teatro?
M: Surgiram o auxílio emergencial e alguns editais emergenciais, mas é muito pouco perto da quantidade de pessoas que trabalham no ramo. Nem todos conseguiram entrar em algum edital e os valores eram muito baixos e, trabalhando à distância, não poderíamos nem pagar auxiliares, eletricistas, iluminadores, sonoplastas e costureiras.
F : Eles podem se beneficiar do auxílio emergencial do governo?
M : Nem todos se encaixam. Eu, por exemplo, que, além de artista, sou professor, não posso, e minha esposa por ser casada comigo também não pode.
F : Quais são as perspectivas para a retomada?
M : Acredito que, antes da retomada, nós já chegamos com outros planos de ação. Eu, por exemplo, estou tocando com mais dois amigos embaixo de blocos e vamos pedir uma contribuição voluntária para quem puder. Além de estar aprendendo a editar áudio e vídeo, estamos fazendo séries de celular no meu grupo.
E : Tenho outros amigos, músicos, que utilizam QR CODE nas lives para arrecadação. Alguns estão arrecadando valores para instituições de caridade, cidades do interior que estão sendo muito afetadas pela pandemia e não têm recursos na área de saúde. Outros estão pedindo contribuição voluntária como cachê mesmo, como o Mateus falou.
F : Você acha que o mercado vai voltar a se aquecer rapidamente?
M : Não tão rápido. Acredito que a solidariedade virá primeiro, pois existem vários prejuízos para sanarmos. Talvez, quem sabe, o “modus operandi” do mercado mude.
E : Também não estou muito otimista. Acredito que vai demorar a termos teatros abertos novamente ou shows, mesmo ao ar livre, com muitas aglomerações.
F : Na sua opinião, essa pandemia vai mudar a forma que as pessoas consumem arte/entretenimento?
M : Já está acontecendo. Acredito em uma valorização da arte e do artista.
E : Esses dias vi uma série no YouTube chamada Teatro em Casa. Tem vários espetáculos, cada com pouco mais de 1 hora de duração. É um formato diferente. As pessoas estão se adaptando aos novos formatos. Na UnB, antes da pandemia, já tinha pessoas estudando formas de filmar, fotografar e captar áudio em teatro para criar um registro audiovisual que seja interessante para o público consumir de forma virtual. Outra coisa interessante – e eu estou torcendo muito que dê certo – é o retorno dos cinemas drive-in. Nós temos o mais antigo cine drive-in do Brasil. É um modelo excelente para esse momento. Seria possível pensar um teatro drive-in também. Tem recurso tecnológico para isso.
F : Você poderia recomendar artistas ou grupos que estão se apresentando na internet?
E : Canal do Jorge Marinho: História infantis e para outras idades também: https://www.youtube.com/channel/UCRWXBfVWXlOXR7sVuRLOl_A
Canal do Adriano Rocha: é um canal de música, mas, em breve iniciará um trabalho com contação de histórias e casos engraçados: https://www.youtube.com/channel/UCebaf6UM8Zi1ToLlrlSzNvQ
M :
E muito outros em festivais pelo Brasil😉