EaD: eu aprendo dormindo

EaD: eu aprendo dormindo

Contos e crônicas Por Mariana Coutinho em 21/07/2020

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O dia é 1º de janeiro de 2020, você acha que esse é o seu ano. Faz novas promessas, lembra de promessas antigas, diz que será tudo diferente. Roupas que variam do branco ao dourado (os ousados vestem preto como forma de luto, pois o ano anterior não foi fácil e certamente você morreu por dentro), que, eventualmente, sujam de champanhe antes da meia-noite, trazendo esperança de dias melhores, até porque sua vida era um horror no ano passado. Agora eu lhe pergunto: a vontade de conhecer Emmett Brown já é maior que tudo, não? Voltar no tempo em um DeLorean na companhia de Marty Mcfly e avisar a si: “Não adianta planejar nada e se enganar mais uma vez, sua agenda draconiana não funcionará este ano!” O motivo? Uma sociedade carnívora que, em um recorte mais específico, come carne de morcego. O recado não foi dado direito, mesmo tendo seres humanos adoecendo por ingerir carne bovina, pareceu razoável contrair Vaca Louca. Com uma personalidade mais desequilibrada que a sua decidindo os rumos do país, todos tiveram que lutar e decidir como seria o próprio isolamento. A solução que pareceu impedir novos contágios foi a tal da quarentena, e, com ela, o surgimento da razão do desespero do estudante de classe média: o Ensino à Distância (EaD, para os íntimos). Uma maturidade nunca antes exigida, pois não há professor para te acordar e prestar atenção na aula de replicação de DNA. Inclusive, há a possibilidade de dormir essa aula e aprender depois. Além de aprender dormindo, EaD pode ser “eu aprendo depois”, afinal, está tudo gravado! E foi esse pensamento que te levou a questionar suas habilidades cognitivas durante a prova online. Para nós, estudantes em pleno 3º ano, o dilema: satisfazer a carne e matar essa aula, ou tomar uma garrafa de café e lavar o rosto com água gelada, pois números complexos cairão no vestibular? Só o tempo dirá se fomos pelo caminho certo, se deu certo ficar em casa e colocar a sanidade mental em risco para salvar a vida do próximo e, talvez, garantir a tão sonhada vaga na federal, planejada desde o seu 1º ano de ensino médio. A única certeza agora é da incerteza, incerteza de dias melhores, de uma sociedade melhor, de um governo melhor, da nota do próximo PAS. Tudo o que havíamos planejado escorrendo entre os dedos, sujando tudo ao redor. De certa forma, ficar em casa, estudar de maneira quase que autônoma,  ensinou a todos o quanto a vida presencial, em todos os aspectos, vale a pena. Encontros, abraços, risadas, companhias e afeto ganharam o destaque que mereciam. Em uma vida material privilegiada, percebemos que não compramos os bons momentos como compramos artefatos online que nunca usaremos de fato. O mundo não mudará muito, esquecem muito facilmente das situações, mesmo que dolorosas e sangrentas. Aqui vai uma proposta de intervenção, pois estou treinando para o ENEM que será realizado sem coesão nem coerência: estudemos para eleger pessoas melhores para cargos relevantes demais para se entregar aos insanos. Essa é a única maneira de transformar pouco a pouco coisas que estão ao nosso alcance. Me desculpe, Weintraub, mas os jovens que você colocará para fazer a prova esse ano serão os mesmos que te tirarão do cargo.  Os da escola pública virão conosco. Mesmo longe, um ajuda o outro da forma como pode, oferecendo material e até apoio emocional. Não soltar a mão de ninguém nunca pareceu tão distante, mas ao mesmo tempo tão real.

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