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Especial 8 de março


ESPECIAL 8 DE MARÇO

Entrevista Por Ana Clara 20/04/2020

Entrevista exclusiva com a professora Natália para falarmos um pouco sobre o dia das mulheres.

/https://escolaeducacao.com.br/mensagem-dia-da-mulher/

Em homenagem ao 8 de Março, entrevistamos a professora Natália, graduada em Letras na Unb, para saber um pouco sobre a vivência de uma mulher na profissão. 

Folha Única: Na sua opinião, qual o motivo da disparidade entre o número de professores e professoras no Ensino Médio brasileiro?

N: Na verdade, eu não acho que o ambiente da escola  seja um ambiente em que a predominância do gênero masculino seja tão clara, tão evidente quanto em outras áreas. Na nossa escola, há sim isso, mas isso tem sido cada vez mais, vamos dizer, quebrado, né? Um padrão que tem sido quebrado. Mas, se eu pudesse opinar aqui, eu acho que é porque, historicamente, os homens, quando o cargo ou o salário é melhor, eles acabam sendo mais reconhecidos por uma questão estrutural da sociedade, ainda que hoje a gente consiga ver mais mulheres nesses ambientes.

FU: Você já se sentiu menos valorizada pelos alunos por ser uma mulher, ou você acha que o tratamento dos alunos é igual?

N: Não, não é igual. Eu já tive alguns episódios com pessoas mais velhas, na verdade. Homens mais velhos em concursos tendem a não dar tanta credibilidade para você, principalmente quando você é mulher e mais nova. Eu já passei algumas situações que me dão essa impressão. Mas, em relação aos meninos da escola, eu acho que, de modo geral, as coisas funcionam muito bem, eles se respeitam muito aqui, né.

FU: Você percebe uma recepção maior das meninas quanto a uma professora mulher?

N: Eu acho que aí talvez a opinião devesse ser mais das meninas mesmo, porque eu acho que as próprias mulheres, as próprias adolescentes podem dizer se elas se sentem mais confortáveis em relação a algumas abordagens para conversar com suas professoras e tudo mais, mais do que com seus professores. Mas acho que sim. Talvez. Uma recepção maior por se sentirem mais à vontade; elas acabam se abrindo mais conosco, com as mulheres do que com os homens, e vice-versa, talvez os meninos tenham uma parceria maior também com os professores homens.

FU: Você alguma vez levou em consideração o seu sexo na hora de escolher o seu curso na universidade?

N: Não, na verdade não. Eu escolhi meu curso porque era um gosto meu, assim, o que eu curtia. Inclusive, eu não sabia que essa seria minha profissão. Comecei a gostar dessa profissão quando eu já estava no curso do qual eu gostava. Talvez não fosse o melhor caminho ou o caminho mais tradicional, né, acho que a gente deve escolher o curso pensando na profissão, mas foi como eu fiz e acabou dando tudo certo. Não considerava isso, mas hoje eu considero sim, porque é possível que, apesar de aqui eu nunca ter sentido isso, nos ambientes em que eu já trabalhei, no ambiente no qual eu trabalho, no Único, eu nunca ter sentido qualquer diferenciação do tipo, eu acho que eu poderia sentir em outros ambientes, então é possível sim que a gente considere. No entanto, como nós somos mulheres, é importante a gente pensar que em todos os ambientes a gente vai encontrar pessoas machistas, e pessoas machistas não são necessariamente homens, são mulheres também, que reforçam padrões, sabe? Então quando a gente pensa em quebrar um padrão ou em ser quem nós queremos ser, a gente tem que pensar menos no que os outros vão impor pra gente, para a gente pensar assim: “eu quero ser isso, então eu vou ser isso, porque é o que eu quero. E, como uma mulher, como uma pessoa que tem direito de fazer escolhas, eu não posso me subordinar ao que o ambiente de trabalho vai me trazer. Eu tenho que tentar subordinar o ambiente de trabalho ao respeito, colocar o ambiente de trabalho para mudar suas características, e não a gente mudar de profissão.” 

FU: E o que você acha que seria um melhor presente no Dia das Mulheres?

N: Olha, eu acho que muitas homenagens são bonitas e reforçam a valorização da mulher ainda que sejam clichês. No entanto, as pessoas que nos homenageiam, elas precisam ter a noção de que, no dia a dia, no cotidiano, às vezes elas faltam com o respeito, então elas não têm o discurso certo durante o cotidiano, durante a rotina delas, e que entregar uma flor ou coisa parecida em um determinado dia não rompe o padrão que essa pessoa tem seguido ao longo de sua rotina. O ideal seria que as pessoas pensassem que a maior homenagem que a gente recebe é respeito. É, no dia da mulher, a gente perceber que a pessoa tem a intenção de trazer para os outros dias da sua vida uma postura de questionamento desses padrões machistas que a gente enfrenta. Se houver discursos mais apropriados no dia da mulher, se a gente receber mensagens mais apropriadas e que elas se estendam ao dia a dia, eu acho que a gente tem a homenagem certa.

FU: Como você lida quando tratam o feminismo e outros temas como “mimimi”? Você já viu acontecendo?

N: Não só vi acontecendo como é frequente no nosso dia a dia, porque as pessoas têm opinião sobre essa história do “mimimi” sempre tentando minimizar as coisas. Eu sou uma pessoa que pensa a dor do outro, a condição do outro, e eu acho que o que dói no outro não pode ser determinado por mim. Eu tenho que adequar meu comportamento ao que o outro julga ser respeitoso com ele, então eu lido dessa forma. Se uma pessoa mostra pra mim que ela acha “mimimi”, que ela acha uma besteira a exigência de outro em relação ao respeito que ela quer, eu costumo tentar levar à reflexão, porque eu acho que, até como educadora, o meu papel é esse: levar as pessoas à reflexão. É claro que nem sempre a gente tem disposição e nem sempre tem forças para estar o tempo todo questionando tudo. Mas até um olhar, até uma postura que você assume em determinadas situações, até esses pequenos gestos mostram o seu incômodo com certos discursos, e as pessoas começam a rever esses discursos, a repensá-los. Em outros momentos, é muito necessário mesmo que a gente aja, aja de forma mais incisiva. Eu acho que o mais importante é o seguinte: a pessoa que busca o respeito tem que ser incansável. A pessoa que desrespeita é incansável, porque ela normaliza isso e faz sem nem pensar, naturalmente. A pessoa que busca respeito, para si e para os outros, ela precisa ser incansável. Nem que seja minimamente, ela precisa reagir sempre. É assim que eu lido, pelo menos.

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Ana Clara

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