Desvendando Obras do PAS 3: Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil

Desvendando Obras do PAS 3:
Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil

Único Educacional Por Helena Aires em 09/07/2020

Análise da música Cálice:

A canção “Cálice”, escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil, representa a opressão da ditadura vivida pela população brasileira, iniciada no ano de 1964. A obra, escrita em 73, foi lançada apenas 5 anos depois, mas foi interpretada em um show feito por Gilberto Gil no mesmo ano. Proveniente da MPB, a obra contém arranjos musicais e vocais que dão a ela um ar de sofrimento, fazendo com que o ouvinte sinta a mensagem transmitida e se emocione junto.

A letra é enigmática, mas retrata bem o sentimento de uma pessoa que viveu durante a ditadura militar, um sentimento de querer elevar sua voz, de tentar se libertar de toda a situação, do desejo de que tudo volte ao normal e principalmente, da preocupação com todos ao redor, medo de que eles sejam sequestrados e feridos. Os compositores também fizeram o uso de uma passagem bíblica para mascarar a crítica, fazendo uma “brincadeira” entre cálice e cale-se, em que a mensagem principal é a de que o povo não irá se calar. 

Em minha percepção, a obra é de uma extrema importância pois é um registro histórico de todo o sofrimento que o país passou nesta época. É uma música forte, melancólica e metafórica, traz, de maneira discreta uma forte crítica ao regime militar. O entendimento principal da linguagem exige um pouco de esforço, pois é extremamente ambíguo e algo que o ouvinte tenha interpretado, de repente se torna outra coisa completamente diferente, mas a mensagem transmitida pela música é clara: o sofrimento foi real

Chico Buarque e Gilberto Gil escreveram muitas outras letras além dessa, e várias delas criticavam o regime. Gilberto Gil foi exilado em Londres, Inglaterra, por sempre se opor ao regime e expressar sua arte de uma forma com a qual o governo não aceitava. Chico Buarque, por outro lado, não foi exilado pelo governo, mas, por medo, auto exilou-se. Ele compunha músicas que criticavam também o regime, mas começou a se expressar de forma mais discreta, tanto que antes, os responsáveis pela censura quase nunca aprovavam suas músicas e isso fez com que ele compusesse músicas com o pseudônimo de “Julinho de Adelaide”. Eles e outros artistas se consagraram na MPB nessa época da ditadura, compondo e interpretando clássicos que fazem parte da história brasileira. 

Letra da música Cálice:

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangueComo beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força brutaComo é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoaDe muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidadeTalvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

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Helena Aires

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