Levantei da cama, lavei meu rosto, escovei meus dentes e, enquanto colocava minha melhor roupa, pensava em tudo que havia vivido com ele. Era ele que me dava os melhores presentes de natal, que me presenteava com mimos no dia das crianças, e me entretia quando ninguém mais podia.
Certa vez, ele me levou a uma inauguração de um novo parquinho, ainda me lembro do cheiro de tinta fresca, no barulho quase que inexistente dos balanços, e em como eu estava suja depois de tanto me divertir. Ele era o único que eu havia conhecido e eu o amava com todo meu coração.
Depois de me arrumar, desci as escadas e fui em direção ao carro; meu pai dirigia e minha mãe estava ao seu lado. Durante toda trajetória, prevalecia um silêncio ensurdecedor.
Passei por todos os lugares de costume, mas estavam diferentes, estavam vazios, sem cor ou sinal de alegria, e isso, talvez, tenha sido o que mais doeu.
Todo lugar que podíamos ter ido se tornaria “nosso”. Porém, no momento em que ele se foi, esses lugares ainda não explorados perderam seu significado e vigor. Eles tornaram-se apenas um parquinho sem graça, um zoológico comum, e, até mesmo, árvores quaisquer.
Quando finalmente pude descer do carro, tudo que eu tinha para dizer a ele estava escrito nos papéis em minhas mãos. Mas, quando o vi com sua melhor roupa, tudo que me veio à cabeça foi a paz de poder vê-lo como ele sempre foi: calmo, sereno. Foi então que eu percebi, ir ao funeral do meu avô foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado.
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