Entrevista com Alberto Salgado

 Entrevista com Alberto Salgado

Entrevista por Marina Oba e Helena Alves em 23/10/2020

Misturando a sonoridade do berimbau com as batidas eletrônicas e unindo o tradicional e o moderno, Alberto Salgado se destaca como um renomado compositor brasiliense. Salgado, ganhador do  28° Prêmio da Música Brasileira de 2017 com seu CD “Cabaça D’Água”, faz parte do repertório do PAS 2 com sua música homônima. Confira a entrevista exclusiva que a Folha Única fez com o artista!

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Foto por Bento Viana

O que o levou a ser músico?

Acredito que foi o próprio caminho da capoeira. Foi na capoeira que eu aprendi a tocar meus primeiros instrumentos: atabaque, pandeiro, berimbau, e também aprendi a compor. Eu treinei capoeira desde os 8 anos de idade, e, quando cheguei nos 19 anos, eu quebrei a perna. Fiquei nove meses de gesso, e, com muita ansiedade, ali parado, doido pra voltar a treinar, eu comecei a tocar cavaquinho, sozinho mesmo. Depois, comecei a compor músicas também no violão. Me inscrevi em alguns festivais e comecei a ganhar tudo quanto é festival de que eu participava, logo no início mesmo, com apenas um ano de violão. Eu também estudei na orquestra de violões do teatro de Sobradinho, sob a direção do professor Maurizio Martins, e lá eu aprendi a ler partitura, o que foi um divisor de águas também. Eu aprendi sozinho primeiro, mas ter depois aprendido a ler partitura, ter tido o contato com a música erudita, apenas acrescentou a mais à minha técnica, à forma que eu toco violão hoje em dia.

Em que contexto foi composta a música Cabaça D’Água?

Eu morava num condomínio em Sobradinho (região onde nasci e moro até hoje), o Império dos Nobres, e comecei a notar um crescimento bem acelerado de condomínios na região. Diante da situação, eu pensei: “caramba, tá tendo tantas casas novas, tantas ruas… e eu não vejo o governo ou essas entidades responsáveis pelo meio ambiente se preocuparem com a água potável, que pode se esgotar; a gente não terá água limpa eternamente se ficar depredando os lençóis e as nascentes de água”.

Inclusive, há dois anos, tivemos uma seca histórica aqui no Distrito Federal, com o nível das barragens todas abaixando muito; e eu acredito que, além da seca em si, claro, causa um impacto considerável o fato de ter muita gente tomando banho o tempo todo, lavando calçada ou carro, usando a água, de maneira geral. 

Então, eu pensei em compor uma música sobre o cuidado com esse recurso tão importante. Chamei o Werner, que é um parceiro meu, pra participar da letra. Ele entrou na segunda parte da letra, e, então, acrescentamos algumas referências sobre a música e a água; por exemplo, “Água de beber, camará”, trecho de uma música (Água de Beber) que o Tom Jobim e o Vinícius compuseram quando o presidente Juscelino os convidou para vir aqui em Brasília. A gente também usou Águas de Março, que é outra composição do Tom Jobim, então eu citei algumas coisas do tipo na letra para lembrar que outros compositores também estavam preocupados com isso há tempos, bem antes de a gente pensar em ser músico. Quando fui gravar a música pro disco, tinha acabado de acontecer aquele acidente em Mariana, ou melhor, aquele descaso horrível que resultou no rompimento das barragens lá, então tivemos a ideia de pegar uma fala de alguma jornalista, samplear e colocar na música, e deu super certo. Eu tive essa ideia junto do meu baterista da banda, Célio Maciel, para deixar a música um pouco mais moderna, colocando uma batida eletrônica ali no início, um contrabaixo distorcido, sintetizado, com efeito, com pedal.

De onde veio a inspiração para unir o berimbau com uma batida eletrônica?

A inspiração para unir o berimbau com a batida eletrônica foi devido à minha trajetória com a capoeira, afinal o nome da música é Cabaça D’Água e, na capa do álbum, a gente colocou uma cabaça com água e um peixe numa terra seca ao lado. Então, eu quis representar esse elemento orgânico — representando mais a natureza, a água em si — com o berimbau, e também a modernidade — que é a pressa, o digital — com a batida eletrônica.

Qual é sua relação com a capoeira? 

Apesar de eu ter parado de treinar capoeira para evitar que eu sofra um acidente e acabe ficando impedido de fazer algum show, a minha relação com ela é de muito amor até hoje. Eu fico arrepiado quando vejo uma roda, o corpo fica querendo jogar e tudo.

Além do rompimento da barragem de Mariana, com quais acontecimentos recentes você relacionaria a música Cabaça d’água?

Além do rompimento da Barragem de Mariana, essa música Cabaça D’água estará relacionada sempre com qualquer tipo de tragédia que aconteça envolvendo a natureza e as pessoas. Você vê que, devido à outra barragem que estourou, perdeu-se o rio, os índios ficaram desamparados e sem a água em que eles estavam acostumados a banhar-se e a pescar. Então, realmente, a música irá sempre dialogar com aquilo que impacta o meio ambiente e os indivíduos.

Qual a sensação de ter sua música estudada pela maioria dos alunos de ensino médio de Brasília?

É maravilhosa, porque isso faz com que minha música seja percebida e ouvida pelos jovens, e, para mim, não há nada melhor do que ter essa oportunidade de muitos jovens poderem conhecer meu trabalho, minhas obras. Eu tenho dois álbuns, e o primeiro álbum que eu lancei, o Além do Quintal, também tem uma pegada ambiental, falando disso de plantar, cuidar, essas coisas, já que eu mesmo tenho esse compromisso com o meio ambiente. O Além do Quintal eu lancei em 2014 e o Cabaça d’água eu lancei em 2017, e, além desses, eu participei também de um álbum que é intitulado Canções de Amor Caiçara, do Manuel Herzog e do Marcos Canduta. Eles são os autores das músicas desse álbum e convidaram a mim; o Chico Buarque, foi como um padrinho para mim, ajudou a divulgar o meu álbum Cabaça d’Água; o Zeca Baleiro, que é outro artista fantástico, gente boa; o Carlos Careqa. Estamos todos envolvidos nesse disco e cada um canta uma música.. É um disco muito bacana que vale a pena todo mundo conhecer também, mas são arranjos diferentes do meu trabalho pessoal, mas são arranjos lindos do Marcos Canduta, grande parceiro.

Na sua opinião, por qual razão sua música foi eleita para figurar no PAS?

Acredito que foi justamente por representar tão bem esses momentos de tragédia pelos quais a gente vem passando, em que, infelizmente, não está havendo uma justiça como deveria; ou seja, há muitas famílias que até hoje não têm recebido ajuda financeira ou um suporte do Estado. O Governo não faz nada e as empresas não cumprem exatamente com o que foi ordenado, então, infelizmente, ainda tem muita gente sofrendo, e acho que ter uma música minha na Lista de Obras do PAS ajuda os jovens a refletirem os assuntos.

O Alberto Salgado está dando aulas de violão! Se estiver interessado, basta entrar em contato com o artista: (61) 98467-2837 (Vivo)

 Não deixe de conferir as outras produções do compositor:

www.albertosalgado.com.br

www.soundcloud.com/albertosalgado

www.myspace.com/albertosalgadobr

www.facebook.com/alberto.salgado.3152

www.youtube.com/albertosvn

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