Suméria, primeira gigante

Suméria, primeira gigante

História por Davi Sousa da Vinha em 23/04/2021

Sul da Mesopotâmia. Clima semi-árido de panorama desértico seguido por trechos de pântanos. Entre os rios Tigres e Eufrates, por volta da metade do sétimo milênio antes de Cristo, humanos, de origem ainda discutível, são os primeiros a se sedentarizar neste meio. Humanos esses que originariam uma das civilizações mais antigas da história. A Suméria. O Período de Al-Ubaid foi de, aproximadamente, 6500 a.c. até 4000 a.c. e é nessa era em que há o desenvolvimento das tecnologias de cerâmica, alvenaria, tecelagem, trabalho em couro, drenagem de corpos d’água com os primeiros canais e diques para enfim desenvolverem os campos irrigados. Havia poucas cidades-estados por enquanto, tais como Nippur, Kish, Ur, Lagash, Uruk e Eridu, administradas por uma figura religiosa e continham um templo no centro.

       Apesar de provavelmente não ter sido a primeira cidade erguida pelos ubaldianos, Uruk foi a que mais se destacou pela sua urbanização e importância política e econômica. Foi durante o quarto milênio que os sumérios, antes ubaldianos, começaram a tomar forma. Foi quando houve a criação da escrita cuneiforme, a produção em massa dos recipientes de cerâmica, a especialização do trabalho, o aumento da densidade demográfica e o avivamento do comércio exterior.

       Algo em torno de 2900 a.c., ocorreu uma definitiva mudança de governo para uma autocracia com um rei para cada cidade-estado. Não foi um dos melhores períodos considerando os altos índices de violência entre as cidades e o desaparecimento de pequenas vilas ao sul. Um desses confrontos foi entre Umma e Lagash, conflito esse, que definiu o rumo da história.

       Os embates incessantes dessas duas cidades se deram pelas planícies férteis de Gu-Edin entre elas. Era um vai e volta de sobreposições militares até que Eannatum, rei de Lagash, conseguiu conquistar Umma e não parou por aí. Conseguiu anexar praticamente toda Suméria, porém também deixou Umma com um sentimento revanchista. Não demorou muito para que Lugalzagesi, governador de Umma, se revoltasse contra o governo abusivo da Dinastia de Lagash junto com outros revoltosos nas cidades de Ur e Uruk, tomando-as para si e depois conquistando Lagash, é claro.

       Apesar da conquista militar de Lugalzagesi, seu reinado não foi bem sucedido, considerando as guerras civis e rebeliões espalhadas pela Suméria durante seu governo. Nesse contexto, surge Sargon. Um homem que, quando bebê, foi colocado dentro de uma cesta a qual seguiria um curso de rio que chegaria em uma família opulenta da sociedade (qualquer semelhança com Moisés é pura coincidência). Um homem de grandes ambições o qual futuramente reinaria Acádia e cerca de 2200 a.c. lutaria contra a contemporânea dinastia. Sargon era um dos gênios militares da história, como Napoleão Bonaparte ou Sun Tzu. Mesmo em desvantagem, ele conquistou várias cidades e derrotou diversos generais sob a liderança de Lugalzagesi até chegar em Uruk e capturá-lo. Sargon, ao dominar toda Suméria, banhou suas armas no Golfo Persa de forma simbólica a fim de provar sua conquista completa da Suméria e marchou em direção a Uruk para executar Lugalzagesi. Era o início do primeiro verdadeiro império da história, que ia do leste Mediterrâneo até o Golfo Persa. Esse era o início do Império Acádio.

       Durante o reinado de Sargon e, após sua morte, de seus filhos, Rimush e Manishtusu em ordem de reinado, tiveram benefícios com o comércio exterior, ganhando produtos em falta como cobre, marfim, madeira e diorito para esculturas, embora também tinham que lidar com diversas revoltas. Naram-Sin, filho de Manishtusu, foi, além de um forte líder retendo tais revoltas, também um rei diplomático, evidenciado pelo casamento de sua filha com um governante de uma cidade ao norte e pela mudança do título de “Rei de Acádia” para “Rei de Acádia e Suméria”. Apesar de os costumes Sumérios tenham persistido e as suas religiões tivessem sido fundidas, as medidas diplomáticas não foram de intensificar muito a preservação da cultura Suméria, pois, desde a vitória de Sargon, a língua acádia ganhou muito mais importância do que a suméria, que ,cada vez mais, virava apenas uma língua literária e mais esquecida.

       Durante o reinado de Shar-Kali-Sharri, filho de Naram-Sin, ocorreu o Evento climático de 4200 ap, que causou intensas secas na Suméria. Foi um fenômeno muito intenso com consequências também documentadas em civilizações do Egito, China e Índia. Na Suméria, o preço do grão encareceu  e algumas cidades foram abandonadas. Foi um momento muito vulnerável e aproveitado por um povo bárbaro das montanhas do norte: os Gútios. Esses bárbaros eram descritos pelos sumérios como animais (foi-se dito que latiam como cães para se comunicar) sem nenhuma espiritualidade ou bom senso. Eles dominaram a Suméria ao destruírem a original cidade de Acádia e tomarem Uruk, iniciando o Período Gútio, que perdurou até cerca de 2100 a.c..

       Os Gútios foram, de fato, terríveis governadores. Eles negligenciaram praticamente todos os papéis que o Estado sumério cumpria, como o reparo de estruturas, investimento em agricultura, burocracia, segurança pública e registros escritos. Esse período das trevas perdurou até a rebelião de Utu-Hengal, governador de Uruk. Foi uma revolta bem preparada para derrubar o próximo que chegasse ao trono, considerando a posse de apenas 40 dias que Tirigan tinha assumido o reinado gútio quando Utu-Hengal começou a rebelião. Tirigan não era um dos melhores reis nem generais, e, portanto, persistiu somente 5 dias, sendo capturado ao tentar fugir para a cidade de Dabrum.

       Haveria agora, depois de séculos, o primeiro rei propriamente sumério desde Lugalzagesi, marcando o começo do que muitos chamam de Terceira Dinastia de Ur ou Neo-Suméria ou até mesmo Renascença Suméria. Embora Utu-Hengal tenha alcançado uma vitória majestosa, não reinou por muito tempo. Morreu em circunstâncias suspeitas com poucos anos de reinado sendo sucedido por Ur-Nammu. Independentemente das circunstâncias que o levaram ao trono, Ur-Nammu foi bem eficiente. Teve medidas como estabilizar o preço do bronze e da prata, o sistema de peso, reconstruiu diques e estruturas em geral e construiu os imponentes zigurates em grande escala além de também ter criado um Código de Leis 3 séculos antes de o de Hamurabi, em que a maioria das leis tinham uma punição monetária, mas também com ocasionais decepamento de membros. Ao morrer, Shulgi, seu filho, assumiu e, seguindo o exemplo do pai, aperfeiçoou os sistemas da burocracia, documentação, imposto e consolidou o calendário. 

       Diante de todas as conquistas da Renascença Suméria, de toda prosperidade e satisfação do povo, porém, ocorre a salinização e a precariedade de nutrientes no solo, que, por si só, causaram o encarecimento do grão, a redução de terras férteis e a mudança da dieta de trigo para a cevada o que não foi muito eficiente. Mais uma situação vulnerável para Suméria também aproveitada por bárbaros, e, dessa vez, pelos Amoritas do oeste. Os Amoritas eram tão ameaçadores que durante os reinados de Shulgi e Shu-Sin, sucessor de Shulgi, construíram uma muralha ao norte, que tinha os rios Tigres e Eufrates como extremos. Foi um total fracasso. Comprovando ser muito dispendiosa, a muralha foi abandonada não muito tempo depois.

       Ibbi-Sin foi o último rei sumério, assumindo próximo a  2000 a.c., seu reinado foi marcado pelos constantes ataques dos amoritas e de outro povo do leste, os elamitas, e uma traição militar durante uma missão para recuperar grãos. Diante de tanta desordem, os Sumérios foram subjugados pelos amoritas ao conseguirem se penetrar até a cidade de Ur com auxílio dos elamitas. A partir daí em diante, a cultura suméria foi se enfraquecendo até o esquecimento.

       Os Sumérios foram basicamente os primeiros gigantes, considerando sua expansão territorial e pioneirismo em tecnologias. É justo argumentar comicamente que eles foram os primeiros em tudo por serem, justamente, os primeiros na área. No entanto, é ainda de se contemplar o fato de serem os inauguradores do contrato escrito, do uso proveitoso da roda em carroças, charruas e na cerâmica, por exemplo, e o sistema de tempo deles o qual usamos até hoje.

       Enfim, Suméria foi uma indubitável civilização de muita história e impérios como Assíria e Babilônia deveriam agradecer pelos avanços desse já imponente “berço da civilização”.

FONTES

https://pt.wikipedia.org/wiki/Suméria : Wikipedia básica né

https://en.wikipedia.org/wiki/Sumer : Wikipedia agora em inglês que no final das contas é mais completinha

https://civilization.fandom.com/wiki/Sumerian_(Civ6)#Civilopedia_entry : É um resumo da civilização Suméria no jogo Civilization 6 (que eu acho top d+ e recomendo)

https://youtu.be/d2lJUOv0hLA : Documentário boladão, informativo pakas e um dos únicos que não fala sobre aliens rs

https://youtu.be/MHpmLrWBjnM : Praticamente Suméria 1ª parte do canal “Rise and Generals”

https://youtu.be/evhDGp1KvPM : Praticamente Suméria 2ª parte do canal “Rise and Generals”

https://youtu.be/bX9SVkixxtk : Praticamente Suméria 3ª parte do canal “Rise and Generals”

MÚSICAhttps://youtu.be/XGWeTN0ydRg : Música tema da Suméria no jogo civilization 6, acho que combina bem com o tema e no final das contas a soundtrack do jogo é fenomenal, uma boa ler enquanto escuta apesar de eu não ter colocado no início porque eu achei que ia ficar meio estranho…mas tá aí, é boa

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Davi Sousa da Vinha

Sou o Davi. Um cara estudioso, lawful-good e bem tranquilo ( no exterior), além de ser reconhecido pelo vício em jogos de tabuleiro.

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