História por Átila Sousa Fernandes em 13/07/2021
Desde a “invenção” do cinema em 1895, e mesmo depois, com o advento de movimentos cinematográficos, como o realismo poético na década de 1930, a França sempre teve papel fundamental para o desenvolvimento dessa arte. Foi graças à invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumiére que o cinema pode se desenvolver como a atividade social que é hoje. Foi a partir dos filmes do excêntrico ilusionista George Meliés que hoje é possível observar efeitos especiais tão bem desenvolvidos e foi através do trabalho de diretores como Jean Renoir que o foco dos filmes começou a desviar de uma representação da alta sociedade e se voltar aos marginalizados e esquecidos. Entretanto, apesar dessas e de muitas outras contribuições terem sido de suma importância, aquela que sem dúvida deixou sua marca de forma mais intensa e duradoura na história do cinema foi a Nova Onda Francesa (Nouvelle Vague).
As origens da Nouvelle Vague estão voltadas para os escritores e teóricos da revista de cinema Cahiers du Cinéma, fundada pelo crítico de cinema André Bazin. Os contribuidores dela compartilhavam todos de uma grande paixão por filmes, em especial aqueles dos grandes diretores americanos como Orson Welles e Alfred Hitchcock, e de um gritante desespero por algo novo e autoral neste campo, tendo em vista o cenário saturado do cinema mainstream francês da época. Para tal, se apoiaram nos conceitos da “auteur theory”, do crítico americano Andrew Sarris, e da “Camera Stylo”, de Alexandre Astruc, os quais defendiam que o diretor seria o autor de sua obra. Deste modo, assim como o escritor usa da sua caneta para criar seus textos, o diretor utiliza-se da câmera para criar seus filmes.
Diante disso, nomes como François Truffaut e Jean Luc Godard decidem sair do campo das ideias e pôr toda essa teoria em prática. Truffaut foi responsável pela grande popularização do movimento fora da França, inclusive tendo um de seus filmes (Les Quatre Cents Coups-1959) indicado ao Oscar de Melhor Direção e vencido a Palme d’Or nessa mesma categoria no Festival de Cannes. Godard, por sua vez, teve maior influência na parte técnica e temática das produções da Nova Onda, tendo como maior representante de seu trabalho o filme Acossado (1960), responsável por imortalizar a maioria das táticas destes diretores. Na obra, Godard utiliza com frequência os chamados “Jump-Cuts”, técnica a qual uma cena é cortada abruptamente para um momento posterior, indo contra a convenção existente da “edição invisível”, que visava manter a continuidade e esconder os cortes. Essa técnica servia tanto como recurso estilístico para o filme, dando dinamicidade para as cenas, quanto prático, a fim de diminuir a quantidade de filme necessário, abaixando os custos totais. Já em relação à gravação em si, Godard, assim como a maioria de seus colegas, se inspirou nos artistas de outro movimento cinematográfico, o neorrealismo italiano, e fez as filmagens com câmeras de mão e fora de estúdios, ou seja, nas ruas da cidade.
Além disso, o filme faz amplo uso da metalinguagem e da intertextualidade, através de referências diretas e indiretas ao cinema e a outros filmes, sejam eles clássicos americanos ou filmes de seus colegas do movimento. Tudo isso demonstra como os filmes da Nouvelle Vague, diferentemente do que antes era regra, não tinham medo de reconhecer a si mesmos, lembrando constantemente os espectadores de que eles estavam assistindo a um filme.
“A Nova Onda influenciou todos os cineastas que trabalharam desde dela, tenham visto os filmes ou não. Ela submergiu o cinema como um tsunami.”, essa frase de Martin Scorsese resume bem quão ampla foi a influência exercida pela Nouvelle Vague, contudo, suas técnicas e temas foram definitivamente imortalizados no movimento cujo próprio autor da frase fez parte, isto é, “A Nova Onda Americana”. Isso logo fica claro ao analisar o filme considerado marco inicial desta chamada Nova Hollywood, Bonnie e Clyde (1967), o qual possui claras inspirações temáticas (um casal de foras da lei com pensamento revolucionário) e estilísticas (montagem, movimento de câmera…) em Acossado.
Além disso, os conceitos da Auteur Theory vão agora ser incorporados e dispersos pelo mundo, tendo em vista a influência e alcance do cinema estadunidense. Por exemplo, os diretores transcendem o papel de peças secundárias, e passam a ser os “protagonistas” de suas obras, sendo seus nomes utilizados para vender os filmes e carregando consigo uma série de características deste autor. Por último, a metalinguagem e intertextualidade vão se tornar parte integrante de quase todos as produções daqui em diante, basta checar filmes como Os Bons Companheiros (Martin Scorsese), Laranja Mecânica (Stanley Kubrick) e Kill Bill (Quentin Tarantino).
Portanto, sempre que for ao cinema ver um filme cheio de crossovers e referências, como “Homem Aranha no Aranha-verso”, ou quando for assistir em casa a algum clássico de Hollywood, como “O Poderoso Chefão”, lembre-se de agradecer àquele grupo de jovens franceses que um dia se juntaram e decidiram mudar o cinema para sempre.
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