Formas

Em uma terra não muito distante, existia uma forma, ou, bem, quase. Ela era ligeiramente diferente das demais, pois tinha o poder de se moldar, imitando o formato de qualquer outra forma. Já foi um quadrado verde, uma linha preta, um círculo multicolor, um triângulo transparente e, até mesmo, um cone vermelho pintado com bolinhas amarelas. Apesar de parecer uma boa habilidade, a Forma não se sentia bem como um único formato por muito tempo, sempre se sentia deslocada no final e saía à procura de outro grupo de formas para se encaixar.

Com o tempo, a Forma acabou perdendo sua identidade se é que já teve uma, pensou. Quanto mais mudanças de forma forçadas, mais infeliz ela se tornava. E não sabia como melhorar, pois era só isso que ela sabia fazer: se transformar em outras formas. Ela já conviveu com formas retas, arrogantes, ignorantes e desordeiras, que se achavam melhores por serem perfeitamente simétricas, como todas queriam ser, mas que não tinham valor ou virtude alguma a se compartilhar com as outras, só pensavam… reto, sem mudanças de direção.

Participou de um grupo de ondas de diversos tons de azul e verde, que, apesar de serem muito boas e divertidas, tinham ideias muito diferentes entre si e brigavam por isso, esquecendo-se da importância do respeito e da tolerância. Um outro grupo de formas que marcaram a vida da Forma, foi o que continha retângulos e paralelepípedos. A Forma se encantou pela maneira deles em se entender tão facilmente, apesar de suas diferenças, tanto visuais quanto em suas ideias, crenças e opiniões. Os retângulos eram mais sérios, talvez um pouco céticos em alguns aspectos, mas sabiam ouvir o que os paralelepípedos, com suas diversas faces, tinham para expressar. Infelizmente, a Forma se exauriu no formato de paralelepípedo e não tinha forças para se transformar em um retângulo.

Depois da exaustão, a Forma perdeu os seus poderes. Sem ter como se transformar e com quem contar, ela se entregou à escuridão, onde todas as formas eram esmaecidas, sem vida, sem cor, sem nenhuma graça. Depois de algum tempo, que pareceu longo para a Forma, ela notou uma forma diferente no escuro. Na realidade, não parecia uma forma, pois seguia, mas ao mesmo tempo não seguia um formato. Ela era brilhante e continha todas as cores em sua composição, o que chamou a atenção da Forma, que queria descobrir o porquê da sua beleza, apesar de sua indefinição.

A nova forma foi se aproximando, e aproximando, até encostar na Forma e iluminar a escuridão que envolvia ambas. Ao abrir os olhos, a Forma se viu no espelho da mesma maneira daquela outra que havia aparecido na escuridão. Brilhante, indefinida e vibrante. Ela demorou um segundo para notar que, aquela forma, era ela mesma, em seu mais puro modo. A identidade que outrora havia desaparecido, surgiu como o Sol numa manhã clara. 

Após aceitar-se do jeito que era, sem precisar encaixar-se em nenhum outro formato, a Forma descobriu que existiam outras como ela, que tentavam se moldar em formas que não eram as certas. Todas elas, tão diferentes das consideradas normais, mas tão belas quanto, finalmente encontraram seu lugar e seu propósito no mundo. Apesar de todas as diferenças, padrões, “panelinhas” e grupos existentes, não é preciso perder a própria essência na procura de um lugar no mundo. 

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Anna Helena

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