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A mulher da casa abandonada

A mulher da casa abandonada

Reportagem por Maria Eduarda Pereira de Sá em 25 de setembro de 2022


Publicado por André Guerino

desenho de uma casa abandonada

Imagine estar preso em uma casa, em um país que não é o seu, sem dominar a língua nativa. Por vinte anos estar sem direito a atendimento médico, contato com outras pessoas, liberdade ou lazer. Sem a vida, vítima de tortura, como agressão física e privação de alimentação. Essa foi a situação a que foi submetida uma mulher brasileira nos EUA pelos patrões, também brasileiros, no final dos anos 2000. A moça, que na época ainda era uma adulta, foi aos Estados Unidos com os chefes com o suposto objetivo de auxiliar a família, a qual era empregada havia anos. Quando chegou lá, no entanto, se viu em uma situação análoga à escravidão. Imagine, depois de anos de desenvolvimento, tecnologia, progresso e inovação, a humanidade ainda é capaz de escravizar o outro, sem se preocupar ou ter empatia com o próximo. Fora, é claro, do crime que é cometido, essa história nos mostra como ainda é preciso educar e estudar. 

A Mulher da Casa Abandonada é um podcast da Folha de São Paulo, apresentado pelo jornalista Chico Felitti. A mulher da casa se chama Margarida Bonetti, filha dos bairros nobres de São Paulo, herdeira dos aristocratas há anos no Brasil, e, também, responsável, junto a seu marido, a submeter a empregada a uma situação análoga à escravidão. Chico relata, ao longo dos episódios que gravou, a história macabra que descobriu a respeito da moça. A pessoa que lê esse texto deve pensar que isso causou indignação aos moradores e vizinhos da mulher. No entanto, o que de fato vinha incomodando os vizinhos, era a falta de reforma na casa, que se localiza em um dos bairros mais nobres de São Paulo. Que absurdo! Como pode haver uma casa velha em Higienópolis?!

A história da casa fica ainda pior. Quando a vítima decidiu denunciar o que vinha sofrendo, o casal de criminosos estava no Brasil. Nos EUA, o crime cometido por Margarida, que nunca teve um julgamento, só poderia ser analisado em tribunal dentro de um prazo de 20 anos. A moça está no Brasil desde 2000, ou seja, já se passaram dois anos do período em que ela poderia ser julgada. Depois de anos de sofrimento, privação e retirada de liberdade, era de se esperar, no mínimo, que a moça, a empregada em situação análoga à escravidão, teria, em fim, justiça. O meu espanto, garanto, foi bem maior, quando Chico diz que a pena que o marido de Margarida cumpriu foi de seis anos e meio, menos da metade do tempo em que o crime foi cometido. Vale salientar que o marido, chamado Renê Bonetti, foi preso porque tinha se naturalizado americano e, portanto, ficou nos EUA, diferente de Margarida, que, pode-se dizer, fugiu. 

Dentro ainda do tema escravidão, um episódio do podcast é escolhido para denunciar alguns outros casos absurdos desse crime. Madalena Gordiano foi uma das pessoas mostradas no episódio. Ela estava na situação desde de os 8 anos de idade, quando sua mãe a entregou para o casal que mais tarde a submeteria a uma vida de exploração, na esperança de uma vida melhor. Madalena foi resgatada quando tinha 46 anos, foi reportagem por todo território nacional, teve uma matéria no Fantástico, inclusive. 

Apesar disso, o trauma é eterno. As memórias de uma vida de exploração são para sempre. A dor não é passageira; a memória dos não envolvidos no caso, entretanto, parece ser descartável. Uma prova disso são alguns comportamentos observados nos telespectadores no caso Bonetti. Enquanto, dentro da casa, há uma pessoa que devia estar condenada, fora, há pessoas imitando a maneira como ela se veste: com roupas velhas e uma pasta branca na cara. Isso demonstra a falta de empatia e o mínimo de noção. Chico não deveria ter que produzir um podcast a respeito de um crime tão hediondo, que ainda existe, e eu não deveria, muito menos, estar escrevendo um texto sobre o ódio da humanidade. Essas deveriam ser noções básicas e empíricas em qualquer um. 

Margarida não é uma senhorinha inocente, ela é alguém ciente de suas ações, seu crime, portanto, não deve ser esquecido. “Uma pessoa não dura a vida inteira, mas suas ações podem perpetuar para toda uma eternidade”.

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Maria Eduarda Pereira de Sa

Oiee. Eu sou a Maria Eduarda, tenho 16 anos e sou jornalista da Folha. Adoro ler e escrever, e acho, na verdade, que esses são os principais motivos do meu interesse no jornal. Espero que tenhamos um ótimo ano nesse projeto.

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