Artigo de opinião por Luísa Ribeiro em 26 de outubro de 2022
Publicado por Luisa Soares Brescianini
Em seu poema “A procura da poesia“, Carlos Drummond de Andrade expressa o caráter profundo e reflexivo da poesia — “Chega mais perto e contempla as palavras./ Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra”. Desse modo, é possível observar distintos conhecimentos que um poema pode oferecer sobre inúmeras temáticas em apenas alguns versos. Estes ensinamentos presentes em poesias podem representar valiosos aprendizados para a vida e também bons repertórios para redações e vestibulares. Portanto, é interessante relembrar alguns poetas e relacioná-los com seus temas mais relevantes.
Gregório de Matos foi o maior poeta do período Barroco brasileiro, recebendo inclusive o apelido de “Boca do Inferno” por alguns de seus poemas satíricos declamados em espaço público. Nascido na Bahia, o poeta compunha, dentre outros temas, poesias com críticas a sua região e ao comportamento dos habitantes, como é o caso da estrofe “Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,/ E é que, quem o dinheiro nos arranca,/ Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos” de seu poema “À Bahia”, em que expõe a falta de liberdade de expressão imposta por aqueles que detinham dinheiro na época.
Phillis Wheatley, nascida em 1753, provavelmente às margens do Rio Gâmbia, na África, foi escravizada ainda criança e aprendeu a ler e escrever poemas enquanto estava subjugada. Aos vinte anos, Wheatley se emancipou e publicou seu primeiro livro, o qual abriu caminho para outras mulheres negras escritoras na literatura. Em sua poesia, estão presentes temas como a escravidão, liberdade e religião. O poema “Sobre ser trazido da África para a América” é o mais famoso da poetisa e traz em seus últimos versos —“Alguns veem nossa raça negra com olhar de desdém,/ “A cor deles é um dado diabólico.”/ Lembre-se, cristãos, negros, negros como Caim,/ Pode ser refinado e se juntar ao trem angelical.” — a sua visão como cristã sobre os negros desprezados dentro da comunidade de fé.
Emily Dickinson, uma das mais célebres poetas da história dos Estados Unidos, viveu durante o período da Guerra Civil Americana e produziu quase dois mil poemas sobre o amor, a perda, a imortalidade e a inevitabilidade da morte. Com a publicação de menos de dez poemas, Dickinson não teve fama em vida, passando-a quase inteiramente na casa de seus pais, em Amherst, Massachusetts. Além disso, escreveu sobre a importância da esperança, principalmente em meio a um período de guerra — “A esperança é a coisa com penas/ Que empoleirada na alma,/ Canta a melodia sem palavras,/ E nunca para” — trecho de um de seus mais conhecidos poemas, em que o eu-lírico faz um lembrete de que ninguém está sozinho, mesmo em tempos de tormenta, pois todos os seres humanos possuem a esperança viva cantando dentro de si.
Castro Alves foi o poeta representante da terceira geração do romantismo, a qual abordou problemas sociais brasileiros, sobretudo a escravidão. Nesse viés, escreveu a maioria de suas poesias com essência social e abolicionista, denunciando as crueldades da escravidão e clamando por uma república. A exemplo disso, em sua obra “Os escravos” destaca-se o poema “O navio negreiro”, em que retrata os absurdos que aconteciam nos navios negreiros que vinham da África para o Brasil. Os versos deste poema “Ontem simples, fortes, bravos./ Hoje míseros escravos,/ Sem luz, sem ar, sem razão…” expressam a agonia dos africanos que haviam sido retirados à força de sua terra de origem e estavam sendo transportados como mercadoria para serem escravizados.
Carlos Drummond de Andrade, considerado um dos maiores escritores brasileiros, fez parte do período modernista e produziu contos, crônicas, literatura infantil e poemas. A poesia de Drummond é marcada por uma forma livre, representações do cotidiano e tópicos sociopolíticos. Dessa forma, no poema “Os Ombros Suportam O Mundo” o eu-lírico discorre acerca de problemas de cunho social encontrados à sua volta. Adjunto a isso, nos últimos versos desse poema — “Alguns, achando bárbaro o espetáculo/ prefeririam (os delicados) morrer./ Chegou um tempo em que não adianta morrer./ Chegou um tempo em que a vida é uma ordem./ A vida apenas, sem mistificação.” — o poeta utiliza da ironia para criticar os que, teoricamente, possuem maior sensibilidade, contudo não se compadecem com os problemas do mundo e, somente julgando a situação, preferem morrer a ter que lutar
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