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Planeta microplástico

Planeta microplástico

Divulgação científica por Júlia Marques Passos em 10 de novembro de 2022.


Publicado por Maitê Folha Desseaux

Microplásticos – Fonte: www.nationalgeographicbrasil.com

Não é de hoje que o consumo desenfreado de plástico e o seu descarte inadequado têm se mostrado problemas graves, visto que oferecem riscos ao meio-ambiente e à saúde humana. No entanto, a preocupação que tem se alastrado pelo mundo é a problemática dos minúsculos detritos plásticos que possuem dimensões micrométricas, os microplásticos. Eles são encontrados em todo o mundo, do fundo dos oceanos ao alto de cadeias montanhosas, no ar das grandes metrópoles, nas praias do litoral brasileiro, na fossa das Marianas, nos rios Negro, Solimões e Amazonas e, até mesmo, na corrente sanguínea humana. A grande questão é que eles são invisíveis e onipresentes, e não se sabe o real risco oferecido à saúde, dado que já foram detectados na placenta, nos pulmões e, consequentemente, nas fezes humanas. O professor do Instituto Oceanográfico da USP, Alexander Turra, destaca que as dificuldades das pesquisas são a diversidade de formas e tamanhos, que podem chegar a um nanômetro: “Hoje temos grande dificuldade para entender o mundo das nanopartículas (…) Não dispomos de tecnologia para fazer o monitoramento dessas partículas, nem conhecimento sobre seus efeitos nos ecossistemas e na biodiversidade.” Pesquisas feitas por cientistas de Hong Kong demonstram como essas partículas chegam ao meio ambiente e, surpreendentemente, apontam que a lavagem de roupa é uma das responsáveis pela liberação. A maioria das roupas é composta por fibras têxteis sintéticas de plástico, como o poliéster, o elastano e a poliamida. Quando essas peças são lavadas, as partículas desprendem-se, sendo enviadas para os esgotos. A pesquisa evidenciou que as secadoras de roupas são as principais responsáveis pela liberação dessas microfibras no ar. Cosméticos e produtos de higiene também são um risco por serem feitos com polietileno. No entanto, o principal perigo é o descarte incorreto, já que toneladas de plásticos são descartadas incorretamente no dia a dia, indo parar nos lagos, rios e oceanos. Assim, a chegada dos microplásticos ao corpo humano é feita de forma facilitada: por serem tão minúsculas, são facilmente inaladas, absorvidas, e ingeridas. Sob essa mesma ótica, eles são classificados e divididos em dois grupos, em relação à forma que chegam ao meio ambiente, podendo serde origem primária, isso é, aqueles que chegam no ambiente já como partículas pequenas — como os pellets, esferas plásticas usadas nas fabricações de diversos produtos plásticos, sendo os cosméticos, os produtos de higiene, e os tecidos sintéticos os maiores detentores de pellets — ou de origem secundária, que são resultados da degradação de objetos maiores, como fragmentos de sacolas ou garrafas PET.

Decomposição de diferentes plásticos em microplásticos – Fonte: www.io.usp.br

Muitos impactos causados pelos microplásticos já foram detectados, como o fato de eles incorporarem partículas tóxicas. Quando estão no meio ambiente, agem como captadores de POPs (poluentes orgânicos persistentes), elevando a toxicidade dessas substâncias, que são altamente perigosas por sua alta longevidade e, caso ingeridas, podem se fixar na gordura, no sangue e fluidos corporais, gerando disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas. Além disso, causam poluição química, em razão dos difenóis presentes em inúmeros materiais de plástico. Essa substância se comporta como um DE (disruptor endócrino), que pode causar infertilidade, problemas comportamentais, diminuição na população, etc. Esse tipo de agente disruptor também é responsável por retardar o crescimento de plantas, diminuir a população de animais, prejudicar o desenvolvimento de ovos e aves, causar deformidades sexuais, e provocar alterações evolutivas. Seus impactos na saúde humana estão ligados aos alimentos embalados por recipientes que contêm difenóis, estando expostos a altos graus de contaminação. O problema é que o consumo de alimentos contaminados por essa substância pode causar câncer, síndrome do ovário policístico, diabetes, doenças cardíacas, abortos, endometriose e outras doenças e síndromes. Para além, o relatório “Plastics, EDCs & Health: A Guide For Public Interest Organizations and Policy-makers on Endocrine Disruption Chemicals & Plastics” apontou que vários plásticos se comportam como DEs, gerando muitos danos à saúde. A presença de microplástico no corpo humano pode resultar no dano das paredes celulares, morte celular e reações alérgicas diversas. O ideal é que se tente, individual e coletivamente, reduzir e evitar a disseminação de microplásticos, diminuindo o consumo de plásticos no dia a dia e buscando soluções sustentáveis, como trocar a escova de plástico por escova de bambu, trocar as sacolas plásticas por ecobags, evitar o consumo de roupas de tecido sintético, utilizar absorventes de pano ou coletores menstruais e, principalmente, reciclar, reutilizar e reaproveitar. Não obstante, a ciência tem buscado soluções, e grandes evoluções foram feitas. Uma delas é a utilização de mexilhões, que, de acordo com os testes feitos no Laboratório Marinho de Plymouth, podem filtrar mais de 250.000 microplásticos por hora. Outras pesquisas foram feitas na Universidade Estadual de Tarleton e demonstraram que a baba do quiabo pode ser eficiente na remoção dos microplásticos da água, em razão dos polissacarídeos do vegetal. Na China, cientistas projetaram um peixe-robô que poderá remover essas micropartículas do oceano: “Desenvolvemos um robô miniaturizado bem leve. Ele pode ser usado de várias formas, por exemplo, em operações biomédicas ou perigosas, um robô tão pequeno que pode ser colocado em uma parte do seu corpo para tratar alguma doença”, declarou à agência de notícias Reuters Wang Yuyan, uma das desenvolvedoras do robô. O robô absorve e transporta os microplásticos, sendo capaz de reestruturar-se caso danificado.

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Júlia Marques Passos

Apaixonada pela mundo da escrita e da literatura.

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