Máquinas morais: desafios éticos na era da Inteligência artificial.
Artigo de opinião por Maria Clara Machado em 23 de abril de 2024.
Publicado por João Otávio Marquez e Silva
Na sociedade atual, a inteligência artificial (IA) está se tornando cada vez mais importante e influente em uma vasta gama de campos e atividades. A IA desempenha um papel fundamental em diversas áreas: automatização de processos industriais, desenvolvimento de assistentes virtuais pessoais, análise de dados para tomada de decisões e até criação de obras de arte. Entretanto, apesar de ser uma das maiores fontes promissoras e revolucionárias de nosso tempo, ela carrega consigo diversas contradições que permeiam o mundo contemporâneo. Assim, esses embates refletem os dilemas éticos, sociais, econômicos e políticos que surgem diante do acelerado progresso desse campo tecnológico.
Um dos maiores dilemas éticos em torno da inteligência artificial é o preconceito algorítmico ou viés algorítmico. Os sistemas de IA são treinados em conjuntos de dados que podem refletir os preconceitos e as desigualdades que existem na sociedade, o que pode levar a decisões discriminatórias em áreas como emprego, crédito e justiça criminal. Para se ter uma dimensão desse problema, em 2018 foi realizado um estudo por pesquisadores da Universidade de Princeton, os quais descobriram que os sistemas de IA usados em ferramentas de reconhecimento facial tendem a ser menos precisos em pessoas com a pele mais retinta e em mulheres devido ao preconceito no conjunto de dados usado para treinar esses algoritmos.
Ademais, a proliferação de sistemas de IA que recolhem e analisam grandes quantidades de dados pessoais, tais como histórico de navegação, localização geográfica e comportamento de compra, levanta preocupações sobre a utilização e proteção destas informações. O uso de dados pessoais delicados pode acarretar em violações da privacidade e, possivelmente, ser explorado por indivíduos mal-intencionados.
Deve-se também ponderar sobre o impacto da inteligência artificial na autonomia e no processo de decisão do ser humano. À medida que os sistemas de IA avançam, é possível que assumam um papel mais relevante na elaboração de políticas, diagnósticos médicos e até mesmo na condução de veículos sem motorista. Isso suscita questionamentos sobre a responsabilidade por decisões equivocadas ou prejudiciais tomadas por máquinas, bem como a forma de assegurar a preservação dos valores éticos humanos em um cenário cada vez mais automatizado.
Depreende-se, portanto, que a inteligência artificial oferece inúmeras oportunidades para melhorar nossas vidas, mas também apresenta desafios éticos significativos que exigem uma consideração cuidadosa e uma ação coletiva. Desse modo, é essencial que os criadores, os decisores políticos e a sociedade em geral trabalhem em conjunto para garantir que a IA seja utilizada de forma ética e responsável, promovendo, assim, uma sociedade futura mais justa e igualitária.