E se a Simone Biles fosse brasileira?

Reportagem por Isadora Macário em vinte e sete de agosto de 2024


Publicado por Lahaina Lunna

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A época das olimpíadas é quando batemos no peito, gritamos do fundo do coração, nos orgulhando de sermos brasileiros e até nos emocionando com vitórias e medalhas. Porém, com cada derrota, cada vez que se faz notável o talento das competidoras, vem a comparação. Sem dúvida, a atleta que mais me fez refletir foi a americana Simone Biles,  não só por ser a melhor do mundo e mostrar mais e mais em cada prova seus dons, mas, também, pelo seu amor pelo esporte. Foi pensando nisso que eu virei para o meu irmão e falei: “Imagina se a Simone Biles fosse brasileira!” e ele, sem hesitar, respondeu: “Provavelmente ela nem faria ginástica”. Apesar de eu ter concordado instantaneamente com ele, e de ser nítido como o esporte é negligenciado no Brasil, nunca havia parado para entender, de fato, quão baixo é o investimento brasileiro na área. 

 A primeira coisa que pesquisei foi a quantia investida, em dinheiro, pelo Brasil no esporte. Para o ciclo olímpico de Paris, o governo repassou R$426 milhões (aproximadamente 72 milhões de dólares). Apesar de parecer muito, ao comparado com o Japão, que teve o orçamento de 240 milhões de dólares só em 2024, começamos a perceber que talvez não seja um valor tão significativo. Porém, essa comparação não é a mais justa, Brasil e Japão vivem realidades completamente diferentes. Comparando nosso país com outros mais semelhantes socioeconomicamente percebemos que, na verdade, o Estado brasileiro investe uma alta quantia na área esportiva. 

 Então, para onde está indo esse dinheiro? A resposta, curta e direta, é: para os atletas com maior reconhecimento. O ex boxeador Rodney Oliveira diz que o mais difícil é chegar até as olimpíadas, pois é nessa fase que o atleta tem que usar toda sua determinação, e ao chegar à competição, o patrocínio e o incentivo governamental finalmente aparecem. Em consequência disso, muitos atletas talentosos desistem no início de suas carreiras pela simples necessidade de colocar comida na mesa de suas famílias. Há, também, uma diferente proporção na quantia recebida entre os esportes, sendo o futebol o que mais recebe fundos – o que, de certa forma, dificulta que outros esportes recebam maior atenção midiática.

 Caso você esteja se perguntando: “Mas e a bolsa atleta?” Sua resposta é ainda mais direta, a bolsa é muito baixa. Para um atleta receber o valor de um salário mínimo, ele tem que ser considerado um atleta internacional – isso é, ter ficado no pódio de uma competição internacional – porém, como alguém que não possui recursos nem para treinar vai bancar uma competição dessas? Ele deve pegar um empréstimo no banco? Além dessa opção ser um processo extremamente desgastante, o tempo que o atleta gastará para pagar o que se deve é absurdamente elevado, tornando essa escolha desvantajosa e pouco prática.

 A melhor solução para resolver a má gestão do dinheiro direcionado aos atletas é a concentração dele na base do esporte. Apoiar atletas antes de serem propriamente descobertos, e conectá-los com patrocinadores. Além disso, aumentar a bolsa atleta é imprescindível para melhorar a qualidade de vida dos atletas, também possibilitando que se concentrem mais no esporte. Para iniciar essas mudanças, é necessário que o governo perceba que o dinheiro gasto é realmente um investimento que, futuramente, trará um retorno gigantesco. O esporte ainda é a maior essência do povo brasileiro, e não podemos deixar que o “País do Futebol” continue sendo apenas isso: futebol.

 Por isso, tenho certeza ao falar que Simone Biles pode até ser considerada a melhor do mundo, mas eu jamais escolheria ela à Rebeca Andrade, pois era Rebeca quem caminhava 2 horas todos os dias até o ginásio em que treinava, e foi ela quem usou toda sua determinação para representar nosso país. Particularmente, escolheria cada um dos atletas brasileiros antes de qualquer outro, pois só eles que brilharam de modo que fez nossa torcida enlouquecer, eles que comemoraram com toda alegria em seus corpos. Me refiro a todos os atletas, não só aos medalhistas, pois todos eles tiveram que lutar contra o incentivo indevido de um país que ainda não está pronto para seus talentos.

@isafmacario

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