Para além dos comitês

Artigo de opinião por Isabela Sacramento em 19 de setembro de 2024


Publicado por Lahaina Lunna

imagem: @unicoeducacional

Simulações – experiências educacionais que buscam reproduzir o funcionamento de eventos e organizações, como as Nações Unidas e o Supremo Tribunal Federal – são oferecidas por diversas instituições de ensino – tanto a nível médio quanto superior. O Único Educacional proporciona a seus estudantes e a outros jovens interessados, em comunidade com a agência Internationali Negotia, quatro etapas diferentes de simulações: modelos ONU, Legislativo, Judiciário e Executivo. Realizados um a cada bimestre do ano letivo, os eventos apresentam imensa popularidade dentre seus participantes que, com entusiasmo, preparam seus discursos, Documentos de Posição Oficial, suas defesas ou projetos de lei. 

  A participação nas simulações é uma atitude excepcional uma vez que, além de ser uma oportunidade exímia de aprendizagem e desenvolvimento intelectual do indivíduo, é uma porta que se abre para o que pode vir a ser uma jornada de autoconhecimento, o início de relações conectadas por uma paixão em comum, ou até mesmo a descoberta de uma vocação. Para fora dos cargos de delegados e deputados, há, em cada um dos “simulandos”, uma motivação para participar, e cada um deles busca enfrentar quaisquer que sejam as amarrações que possam os impedir de exercer suas funções com êxito. A saída da zona de conforto, ultrapassando limitações pessoais – como a ansiedade que muitos podem sentir ao falar para um grupo maior de pessoas, vencida conforme é necessário caso o participante deseje provar um ponto ou expressar uma opinião – é um ato admirável de coragem e força de vontade,  por exemplo. 

  O aluno destaque em simulações nacionais e internacionais, Lucas Canfran, do segundo ano do Ensino Médio, compartilhou um pouco sobre a sua experiência com essa saída da zona de conforto: “Meu primeiro contato com as simulações da ONU foi na minha antiga escola. Eu me lembro que, nesse primeiro contato, em 2022, eu me sentia muito ansioso com a ideia de falar na frente de uma sala com mais de 30 pessoas. Era algo que me deixava verdadeiramente aterrorizado. Fazer um discurso completo sem gaguejar ou tremer parecia algo impossível, e talvez tenha sido essa dificuldade inicial que eu tive com a fala pública – algo muito natural para todo mundo que está começando nesse meio – que só me permitiu ficar realmente motivado em participar de mais simulações quase um ano mais tarde. Por mais que eu tivesse me interessado muito desde o primeiro momento que eu entrei em um comitê, foi na Etapa Legislativa do Único, em 2023, quando ainda nem era aluno do colégio, que eu verdadeiramente percebi que me encontrei nas simulações e queria me empenhar para participar mais ativamente.” (…) “Quando eu simulo hoje em dia, eu sinto uma sensação muito única, quase como um friozinho na barriga. Eu acho que não tem nada mais especial e gratificante do que terminar um discurso e perceber que você foi bem, ou quando o comitê aprova uma resolução que você se esforçou para redigir.” 

  Em seu relato, Lucas também destacou: “Além dos benefícios acadêmicos de participar de um evento desses, as amizades e conexões que uma simulação proporciona são talvez a parte de uma conferência que mais agrega no final das contas. Perceber que você criou uma rede de apoio de pessoas que compartilham dos mesmos interesses e paixões que você é uma sensação muito especial.” Letícia Rael, aluna de outra instituição de ensino, mas que simula no Modelo Único – IN 360, ressaltou em depoimento a relevância das conexões que construiu nessas experiências, também: “O mais bonito é ver as pessoas que participaram de simulações anteriores se aprimorando, crescendo junto com você, e compartilhando esses momentos especiais. Com o tempo, esse ambiente se transforma em algo do qual você não quer mais sair. Você passa tanto tempo com aquelas pessoas que elas acabam se tornando quase como uma família à parte.” 

  Para quem já se interessa por debate e política, as simulações tendem a, além de despertar ainda maior paixão pelas áreas, gerar oportunidades profissionais nelas. Segundo o ex-aluno único, atual estudante de direito, Luis Fernando Ribeiro: “Não tinha ideia das proporções que as simulações poderiam tomar na minha vida. Tenho uma noção de processo legislativo, direito internacional, direito constitucional e processual civil maior que a de outros colegas, tudo isso graças ao mundo das simulações. Ainda consegui ser aprovado em processos seletivos, nos quais estava competindo com alunos com experiência profissional e de semestres mais avançados, por ter participado desses projetos, que são muito apreciados pela comunidade acadêmica.” 

  As simulações, ainda, costumam contar com uma equipe comunicadora. Nas IN 360 – Modelo Único, a Agência de Comunicação é composta por funcionários da Fanzine Folha Única e por interessados “free-lancers”, que exercem funções como as de jornalistas, revisores, entrevistadores e publicadores. Participar da experiência de simular através da Agência de Comunicação alimenta um importante sentimento de cooperação e companheirismo, enquanto também exercita a criatividade e a racionalidade de seus integrantes que, com horários estreitos e muita demanda, realizam um trabalho extremamente profissional e acurado.

  Depreende-se, portanto, que simular vai muito além do momento em que o indivíduo se apresenta,  discursa, ou até mesmo que ganha uma premiação. Simular é sobre as barreiras que são vencidas, sobre os vínculos que são criados e as oportunidades que se estendem à frente daqueles que têm a coragem de se aventurar nessa espécie de “faz de conta político-social”. A magia das simulações é o poder de tanto conseguir construir um indivíduo quanto iluminar um caminho brilhante para outro, tudo isso enquanto ambos consolidam um vínculo genuíno. Simular está além do que acontece dentro dos comitês, e isso é algo absolutamente bonito de se observar.

@isabsenra

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