Reportagem feita por Arthur Sobral Velloso
Publicado por Valentina Resende.
Uma foto do elenco de “Ainda Estou Aqui”.
Desde o lançamento do filme “Cidade de Deus” (2002), que foi indicado a quatro Oscars (incluindo o de Melhor Direção para Fernando Meirelles), parecia que o cinema brasileiro teria um maior reconhecimento, tanto por parte dos brasileiros quanto dos estrangeiros. Principalmente porque, após esse lançamento, tivemos grandes filmes sendo lançados nos anos seguintes, como “Carandiru” (2003), “O Homem que Copiava” (2003), “Estômago” (2007) e “Tropa de Elite” (2007). No entanto, acabamos passando anos sem ganhar um Oscar e ainda enfrentamos uma desvalorização do cinema nacional, que passou a ser reduzido, pelos próprios brasileiros, a apenas filmes de comédia pastelão ou filmes de favela com forte drama social.
Porém, em 2024, foi lançado “Ainda Estou Aqui”, que gerou uma grande comoção entre os brasileiros e também entre o público estrangeiro, garantindo ao Brasil o primeiro Oscar da sua história, na categoria de Melhor Filme Internacional, em 2025. Entretanto, a reflexão que devemos fazer após essa vitória é sobre qual será o impacto que “Ainda Estou Aqui” deixará para o cinema brasileiro.
Para compreendermos essa resposta, primeiramente devemos entender o sucesso local e internacional do filme. No cenário nacional, “Ainda Estou Aqui” alcançou a sexta posição em arrecadação total entre os filmes exibidos nos cinemas do país em 2024, ficando, inclusive, à frente de blockbusters americanos como “Sonic 3: O Filme” e “Venom: A Última Rodada”. A última vez que um filme nacional teve tamanha arrecadação foi com “Minha Mãe É uma Peça 3” (2019). Outro fator que pode explicar esse sucesso foi o fato de a obra se enquadrar em um tipo de filme chamado “filme-evento”, quando o lançamento é considerado algo importante. Foi o caso de “Ainda Estou Aqui”, por ter gerado debates sobre os crimes cometidos pela ditadura militar brasileira e pelo anseio de que o filme fosse indicado — e até mesmo vencesse — o Oscar.
Por outro lado, o longa-metragem também teve um grande impacto internacional. Não apenas por apresentar aos estrangeiros as questões relacionadas às ditaduras latino-americanas, mas também por promover uma reflexão sobre os tempos atuais, em que se observa uma fragilização das democracias, não só no Brasil, mas em diversas partes do mundo. E é isso que acaba fazendo com que o filme tenha sido um sucesso tanto local quanto internacionalmente.
Mas, mesmo com todo esse sucesso, será que “Ainda Estou Aqui” fará com que haja maior qualidade nas produções nacionais e um aumento de público para essas produções? Não necessariamente. Por mais que esse sucesso possa atrair o interesse de produtoras ou distribuidoras internacionais e privadas em investir no cinema brasileiro — como é o caso da Sony Pictures, que distribuiu não só “Ainda Estou Aqui” como também “Vitória” (2025) —, o setor ainda depende majoritariamente de incentivo estatal. O apoio dessas empresas pode representar uma melhoria, especialmente no marketing dos filmes e em sua distribuição nas salas de cinema.
Contudo, é importante lembrar que “Ainda Estou Aqui” se enquadra na categoria de filme-evento. Ou seja, é o tipo de obra que pessoas que não frequentam regularmente o cinema fazem questão de assistir, movidas pela repercussão e pelo boca a boca. Se o esforço for apenas o de lançar mais filmes desse tipo, o impacto no setor como um todo será limitado. Isso pode fazer com que o público continue com a ideia estereotipada de que o cinema brasileiro se resume a comédias pastelão ou dramas sociais, com poucas exceções de qualidade.
Portanto, “Ainda Estou Aqui”, individualmente, não causará uma revolução no cinema nacional. No entanto, pode influenciar medidas importantes para que se obtenha maior reconhecimento e valorização do cinema brasileiro por parte do público.
Essas medidas incluem: maior acessibilidade de preços nas salas de cinema, para que esse espaço não seja apenas um luxo da classe média-alta; incentivo à participação de produtoras internacionais, o que ajudaria na distribuição e divulgação local; maior tempo de exibição dos filmes nacionais; inclusão do estudo de cinema nas escolas, para incentivar o hábito cinematográfico entre crianças e adolescentes; e a proteção da cota de tela, essencial para a valorização cultural. Apesar de ser uma medida polêmica, é importante lembrar que países com indústrias cinematográficas fortes, como a Coreia do Sul, se beneficiaram justamente da implementação de políticas como essa.
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