Como o surto de coronavírus se relaciona com as demais pandemias
Ao longo de sua história, a humanidade já enfrentou diversas crises epidemiológicas. Pandemias -doenças que afligem um grande número de pessoas em um espaço geográfico considerável- têm tomado vidas humanas e causado terror por séculos. Com o agravamento da situação atual do Covid-19, questionamentos a respeito de outras pandemias têm surgido para que possamos tentar compreender o que está ocorrendo e, principalmente, quais serão os efeitos desse surto.
A Peste Negra (século XIV) é talvez uma das mais famosas pandemias, tendo se espalhado pela Europa e Ásia e matado cerca de 50 milhões de pessoas. Essa doença é causada pela bactéria Yersinia pestis e os sintomas clássicos são inflamação de gânglios linfáticos, dor, tremores, febre e apatia. Acredita-se que, após a peste, a redução da mão de obra disponível colaborou com a crise do feudalismo e o saneamento das cidades melhorou significativamente.
No final do século XIX, observamos o início da pandemia de varíola. Essa doença já tomava vidas há cerca de 3000 anos, porém, em 1896, o número de casos aumentou significativamente, matando 300 milhões de pessoas. A varíola é causada pelo vírus Orthopoxvírus variolae e os sintomas são febre e erupções em diversas regiões do corpo. Em 1980, a doença foi considerada erradicada após campanhas de vacinação em massa, mas profissionais de saúde temem que as campanhas anti-vacina causem um novo surto.
A humanidade já passou por inúmeras epidemias de febre amarela, sendo esta a principal causa de surtos na África. A doença é causada pelo vírus Flavivírus e graças ao mosquito vetor, os surtos concentram-se em países tropicais. O surto de febre amarela ocorrido no Haiti entre os séculos XVIII e XIX merece destaque visto que provocou a saída em massa de franceses do território e, portanto, facilitou um a rebelião haitiana contra a França. Atualmente tem-se uma vacina contra a doença que deve ser tomada antes dos 12 meses de idade e ter doses repetidas de dez em dez anos.
Logo após a Primeira Guerra Mundial, no século XX, o mundo enfrentou uma pandemia de gripe espanhola que matou cerca de 20 milhões de pessoas, inclusive o presidente brasileiro Rodrigues Alves. Como o vírus Influenza está em constante mutação, temos campanhas de vacinação anualmente mas não temos uma cura definitiva. A epidemia abalou ainda mais a população mundial, que já lidava com as consequências da Grande Guerra.
No final do século XX, tivemos uma epidemia ainda muito viva na memória de diversas pessoas: a epidemia da AIDS. Cerca de 22 milhões de pessoas já perderam a vida para essa doença, que suprime o sistema imunológico e, portanto, torna o indivíduo vulnerável às chamadas doenças oportunistas. O HIV é transmitido por sangue, leite materno e fluidos sexuais e ainda não possui uma cura. Nos últimos anos, temos observado um aumento de casos de AIDS entre jovens que pode ser justificado por uma redução do número de campanhas que reforcem a gravidade dessa doença. O combate a doença ainda é prejudicado por estigmas e preconceitos.
Podemos perceber que situações de grande crise como as pandemias descritas colaboram, inegavelmente, com diversas mudanças sociais. Apesar do temor causado pelo atual surto de Coronavírus, temos que acreditar que sairemos dessa situação mais fortes e unidos. As crises epidemiológicas mostraram-se capazes de aumentar a alteridade e a solidariedade entre as pessoas, como está sendo observado atualmente. Infelizmente, o número de mortos está em constante aumento, porém podemos honrar a vida dessas pessoas aproveitando mais a nossa, sendo mais genuínos e criando vínculos verdadeiros. Todos estamos sentindo falta de situações que considerávamos banais, um abraço nos nossos avós, ir ao cinema com nossos amigos, até mesmo ir para escola às 7h da manhã… talvez essa nova apreciação por nossas rotinas nos ensine a valorizar a vida da qual tanto reclamamos quando tudo está “normal”.
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