A nova tendência da internet é a política do cancelamento, que basicamente consiste em julgar uma ou várias ações de uma pessoa e recusar a ela uma chance de se redimir ou aprender com seu erro. Acredito que, além de desumana, essa política é absurdamente hipócrita. No momento em que o erro é seu, a narrativa muda, se não te oferecem uma abertura para pedir desculpas ou corrigir alguma(s) frase(s) infeliz(es).
Esse cancelamento vem de uma base do pensamento do sociólogo Z. Bauman, o qual defende que, com a globalização e a flexibilização dos meios de comunicação, o medo predomina sobre a razão e isso gera consequências. Estamos tão concentrados em não sermos julgados, até mesmo injustamente, pelos outros, que fazemos de tudo para que o erro do outro seja pior que o seu, ganhando mais visibilidade e fazendo com que o seu passe despercebido.
A morte física passou a ser uma aceitação, é inevitável. É claro que o instinto natural do ser humano é simples: a sobrevivência. Entretanto, aí vem a incoerência. Antigamente, a única sobrevivência possível era a biológica, mas isso também mudou. As antigas práticas de sobrevivência não funcionam mais na atual realidade. Não conseguimos distinguir mais tão claramente o certo do errado, o que deve ou não ser dito, e isso gera uma extrema desconfiança.
A solução chega a ser óbvia: construímos muros sociais. Decoramos textos considerados corretos pela maioria e repetimos, muitas vezes sem nem saber seu real significado, buscando incansavelmente a aprovação alheia.
Uma alternativa muito válida, coerente e segura é o famoso “local de fala”, que consiste em dar voz às pessoas que sofrem com o ocorrido. Resumindo: as mulheres se pronunciam em uma situação de machismo, as pessoas trans se pronunciam em questões de transfobia, e os pretos ou negros no racismo, por exemplo. O conhecimento sobre essas questões é helicoidal, ou seja, nunca se sabe o suficiente. Um exemplo concreto foi a minha escrita usando a terminologia preto ou negro. Aprendi com Babu Santana, ator participante do BBB 20, que negro é uma palavra racista, mas aparentemente não há um consenso.
Felipe Neto reconhecendo a importância do lugar de fala:
Isso só mostra o quanto a ignorância e as nossas barreiras podem nos privar de evoluirmos socialmente e intelectualmente falando. Para solucionarmos isso, é necessário o fim desta política hipócrita do cancelamento. Afinal, o seu erro é perdoável, mas o do outro é condenável? O que diminuirá, por consequência, esse medo do incontrolável, do julgamento muito pesado sobre os outros e até sobre si mesmo. Nem tudo precisa ser tão extremo. A empatia é isso, colocar-se no lugar do outro. Tratar as pessoas do jeito que elas gostariam de ser tratadas e como você gostaria de ser tratado. A internet já é um lugar tóxico demais, não precisa desse hábito do ódio e julgamento fixo de alguém. Não é melhor todos aprenderem com seus erros e contribuírem para um mundo agradável?
Um exemplo dos participantes do BBB 20, Babu, Thelma e Manu refletindo sobre o amadurecimento do youtuber Felipe Neto, o qual tinha fama pelos seus comentários preconceituosos:
Ninguém é o ditador do certo e da verdade. Existem os fatos e a sua interpretações que você cria deles. Portanto, não cruze essa linha achando que só vale para os outros. Como muitos dizem: “a internet não perdoa ninguém”.
Mais uma vez, Felipe Neto comprovando que ninguém tem que pensar igual, mas fatos e opiniões são conceitos totalmente diferentes:
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