Um Olhar Sobre As Eleições Americanas

Um Olhar Sobre As Eleições Americana

Reportagem por Ana Clara Costa em 27/11/2020

O dia 3 de novembro de 2020 foi um marco para a história estadunidense. Em meio a uma pandemia e em um país em que o voto não é obrigatório, houve um comparecimento recorde de eleitores.  Comentou-se muito na redes sociais a grande confusão e lentidão para a apuração dos resultados: delegados por estado, votação por correio, antecipado, presencial e regras diferenciadas para a apuração de votos de acordo com o estado. Mas, afinal, como funciona essa eleição que, como tudo que os americanos fazem, mais parece um grande espetáculo?

ELEIÇÕES INDIRETAS

votação-USA
Getty Images

 Ao contrário do Brasil, onde há uma eleição direta, ou seja, quem tiver o maior número de votos absolutos ganha, nos Estados Unidos, há o colégio eleitoral, que define a eleição. Cada estado possui um número de representante nesse colégio, que varia de acordo com o tamanho de sua população. Se, em um determinado estado, Biden tem mais votos, os delegados que representaram o estado no colégio eleitoral serão democratas.  Califórnia (55), Texas (38), Nova York (28) e Flórida (28) são, respectivamente, os estados com maior número de delegados. Porém, tanto no Nebraska quanto no Maine, há uma exceção. No Nebraska, há dois delegados para o estado inteiro e 3 distritos específicos que possuem um delegado para cada; no Maine, há 2 delegados para o estado e 2 para dois distritos. 

Em janeiro, os delegados se encontram para aí sim votarem e escolherem o presidente.

DEMOCRATAS X REPUBLICANOS

O sistema nos Estados Unidos é o bipartidarismo. Ou seja, existem dois grandes partidos que dominam a política: os republicanos (mais à direita) e os democratas (mais à esquerda). Nos últimos 50 anos, a força do partido republicano tem se concentrado geograficamente  no sul e no centro do país e, em termos demográficos, o eleitorado é predominante masculino, mais velho, branco e com menor escolaridade. Já o partido democrata é mais forte nas costas, e tem eleitores, em geral, mais jovens e mais heterogêneos.

CORONAVÍRUS

Apesar de se esperar que o comparecimento deste ano poderia ser menor por conta da pandemia, ocorreu o contrário. Essa foi a eleição com o maior número de eleitores da história dos EUA. Os eleitores americanos podem votar de duas formas, tanto pelo correio quanto em pessoa. Ao contrário do Brasil, onde apenas há um dia para votação, lá se pode votar até um mês antes, dependendo das regras de cada estado. Os Estados Unidos possuem fortes raízes no valor de federação, o que faz com que, mesmo em eleições nacionais, as regras variem muito dependendo do estado. Era esperado que os eleitores democratas votassem mais por correio, porque, desde que o coronavírus virou algo não apenas científico, mas também político ao redor do mundo, respeitar a quarentena e o distanciamento social foi uma bandeira levantada por membros do partido democrata. Já os republicanos, em sua maioria, foram mais céticos em relação à Covid e incentivaram fortemente que os eleitores fossem votar em pessoa.

Biden-Harris

Após agitadas primárias democratas, em  que Biden teve um difícil início, ele se consagrou o candidato à presidência do partido. Nascido em Scranton, Pensilvânia, Biden foi por muitos anos senador por Delaware. Em 2008, foi escolhido por Obama como seu companheiro de chapa. Agora disputando a presidência, ele  convidou a senadora pela Califórnia, Kamala Harris, para ser sua vice. Filha de pai jamaicano e mãe indiana, além de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de vice presidente, ela será a primeira pessoa de origem negra e de origem asiática  na posição.

Trump-Pence

Tendo surpreendido tanto nas primárias republicanas quanto na eleição de 2016, Trump tentava sua reeleição juntamente com o Vice-Presidente Mike Pence. Sua administração foi marcada por incontáveis decisões controversas como a restrição de entrada de mulçumanos no país, a retirada dos EUA do acordo de Paris e a tentativa de desfazer inúmeras políticas iniciadas no governo Obama, como o Affordable Care Act, que deu acesso a serviços de saúde a uma população até então desassistida.

ELEIÇÕES 2020

Como era esperado, o resultado das eleições não foi  anunciado no dia final de votação, mas apenas 4 dias depois. É importante ressaltar que esse resultado não foi oficializado por um órgão nacional, mas sim pela imprensa, que monitora os resultados estaduais e os soma. Até dezembro, cada estado irá certificar os próprios resultados.

Todas as pesquisas antes da eleição garantiram uma vantagem ampla para Biden, mas quem acompanhou a apuração no início pode ter ficado em dúvida sobre o resultado final. O estado da Flórida, crucial para a vitória de Trump, foi um dos primeiros anunciados, animando a esperança dos republicanos, mas, à medida que outros estados foram liberando seus resultados, a vitória de Biden ficava cada vez mais certa, tendo se concretizado no sábado (7) com a definição da Pensilvânia. 

Nesta última eleição, um grupo que se destacou muito nas mídias foram os latinos. Mesmo com o discurso xenofóbico de Donald Trump contra minorias, ele conseguiu aumentar seu apoio entre partes da comunidade hispânica. Nessa última eleição, Biden teve menos apoio deles do que a sua antecessora Hillary Clinton. É importante lembrar que a comunidade latina não é monolítica como muitos pensam. Mais da metade são mexicanos, que, por si só, já são um grupo muito diverso. Os porto-riquenhos formam o segundo maior grupo, com 14 por cento da comunidade, e, em terceiro lugar,  temos os cubanos, com 5 por cento. Essa piora de Biden na comunidade vem muito por conta dos cubanos, já que a maioria desses imigrantes não gosta muito da esquerda porque saíram de Cuba, em geral, justamente por não concordarem com o governo socialista. Os latinos que moram no Vale do Rio Grande, na fronteira com o México, também apoiaram Trump em maior número que historicamente. Por outro lado, os latinos, em conjunto com os nativo-americanos, foram instrumentais para a vitória apertada dos democratas no estado do Arizona, fato que não acontecia desde 1976.

Inacreditavelmente, passadas semanas do pleito, o Presidente Trump ainda não reconheceu a derrota e parabenizou Joe Biden, como dita a tradição. Os advogados 

de Trump já entraram com dezenas de processos em vários estados tentando reverter os resultados, mas não vêm obtendo sucesso.

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